É bom preparar o espírito: não está descartado o risco de que, mesmo com corte do juro básico esperado para esta quarta-feira, de 0,25 ou 0,5 ponto percentual, as taxas ao consumidor sigam subindo na ponta.
– Se houver repasse (do corte), será pequeno. E há possibilidade de nem sequer haver repasse – reforça Miguel Ribeiro de Oliveira, que há décadas acompanha o sobe-e-desce das taxas para empresas e pessoas.
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Com inadimplência crescendo, aumenta um dos custos embutidos na cobrança dos clientes dos bancos. Oliveira lembra que o juro final inclui, além do repasse da taxa básica, o chamado spread, composto por cobertura de risco de inadimplência (33%), lucro dos bancos (29%), impostos e compulsório (23%) e despesas administrativas (15%). Detalhe: essa divisão não é atualizada há dois anos, a partir de quando o calote só aumentou.
Diante do cenário – demanda fraca, inflação em declínio mas ainda devorando renda, desemprego alto, empresas frágeis –, o risco de crédito deve subir antes de se acomodar, diz Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
O consolo é que o corte do juro básico embute a chance de reversão desse quadro no médio prazo, avalia o executivo. Ao baixar o custo da operação para os bancos, abre perspectiva de redução das taxas na ponta.
Oliveira prevê que os bancos possam baixar o custo "de uma linha ou outra", mas a menos que ocorra uma "queda fortíssima" no juro básico, o Brasil pode encarar mais uma situação que desafia os manuais: Selic diminuindo enquanto as taxas de mercado sobem. Será temporário, mas podemos viver para ver.