Retomadas exigem mais do que otimismo e confiança. Os dois sentimentos são as tais "condições necessárias, mas não suficientes" para sair do ponto onde a economia brasileira parece ter estacionado, o famoso fundo do poço – até por serem sentimentos, não mais do que isso. E para sair da crise, é preciso mais do que vontade ou ânimo. Crédito, investimento, trabalho, emprego são tangíveis e compõem o cenário em que todos preferiríamos estar.
Não quer dizer que a situação do país piorou, mas certamente não está melhorando na velocidade e no ritmo ambicionados quando começou a se celebrar o fim do declínio rumo ao precipício. Outra vez, a interpretação do movimento de agosto, que voltou a dobrar para baixo linhas ascendentes em diversos tipos de gráficos depende do humor do analista: os mais críticos veem inflexão, os mais animados consideram que houve apenas um ponto fora da curva. Um dado desta segunda-feira reforçou o coro dos preocupados: a atividade e o emprego da indústria da construção caíram em setembro.
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A Sondagem Industrial da Construção da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou o nível de atividade do segmento 41,5 pontos em setembro, ligeiramente abaixo dos 41,8 pontos no mês anterior. Resultados abaixo de 50 indicam nível de atividade inferior ao usual.
O ceticismo em relação ao futuro do ajuste fiscal não vem apenas da oposição ao governo. Ficou explícito no comunicado do Banco Central que justificou o conservadorismo no corte do juro básico. Engatar a já adiada reação depende de medidas adicionais. Uma delas seria uma poda mais acentuada da taxa de referência do custo do dinheiro na economia, mas essa ficou para mais adiante. É provável que, com isso, tenha prolongado também as expectativas de que o PIB volte ao positivo ainda neste ano.
O dólar fechou em R$ 3,12, patamar mais baixo em 16 meses. Isso que só estão entrando no Brasil os recursos das multas. O principal segue lá fora, como permite a Lei da Repatriação. Deve cair mais até o final do mês.