Apesar do início torto, com foco equivocado na duração da jornada diária de trabalho, setembro deve ser um mês de definições. Da solução para o incômodo fantasma de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara dos Deputados ao primeiro sinal concreto sobre o real tamanho do plano de concessões e privatizações do governo federal, culminando com a prometida entrega do texto oficial da reforma da Previdência, será um teste para a capacidade de articulação e convencimento da gestão Michel Temer.
Até agora, o governo interino transformado, por força da aprovação do impeachment, em substituto, tem dado mostras de improviso. Parece faltar uma coordenação que leve em conta o conjunto ações e reações.
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O mesmo núcleo que compara a "incinerar-se em praça pública" qualquer esboço de defesa de Cunha deixa soltos fios desencapados como o da precária capacidade de comunicação e convencimento do ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira.
Se um especialista em sabotar uma reforma tivesse feito um plano, não teria sido melhor executado. Ao menos para consumo público, conseguiu a rejeição até de um dos mais aguerridos defensores do impeachment, o presidente da Força Sindical, deputado Paulinho Pereira da Silva (SD-SP), que embarcou na adjetivação – considerou as propostas "inoportunas" e "delirantes", mas também deu um recado valioso: o governo precisa de mais prudência na divulgação "atabalhoada e fatiada" de medidas, que atrapalham o debate e o avanço das negociações. Puro senso comum. Esse elemento pode não ser decisivo quando presente, mas, se ausente, compromete qualquer esforço.
Grandes expectativas cercam o plano de concessões e privatizações, mesmo que só produza efeitos de médio prazo. Como ao menos parte foi desenhada na gestão Dilma Rousseff, presume-se que seja apresentado com correções e adaptações, até por ter sido precedido de debates com potenciais interessados. E houve oportunidade de aprender com os erros alheios – a famigerada tentativa de limitar a taxa de retorno ainda no primeiro mandato de Dilma.
Da reforma previdenciária, já se sabe bastante, mas há muitas dúvidas sobre detalhes, do tamanho do pedágio a pagar por quem entra na regra de transição à revisão de normas que desincentivam a permanência no mercado de trabalho. E, como se sabe, detalhes são grandes o suficiente para abrigar Deus e diabo. Dizem que ambos moram ali.