Não foi exatamente um sucesso a fase Arquivo X da Operação Lava-Jato. O prende e solta do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega lançou um sinal de alerta sobre o nível de informações da força-tarefa de Curitiba. Ainda pela manhã, a prisão no hospital teve de ser explicada. Depois, foi revogada pelo juiz Sergio Moro.
Guido Mantega não é um operador oportunista, que se aproximou do PT como mariposa atraída pela luz do poder ou pelo acesso facilitado a meios de enriquecimento. É um militante histórico que, até emplacar como titular mais longevo em período democrático no Ministério da Fazenda, era visto até com reticências, no núcleo mais operacional do partido, por ser visto como um teórico, um acadêmico, não um formulador e, muito menos, como facilitador.
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A prisão de Mantega era um passo decisivo na tentativa de comprovação da denúncia de corrupção sistêmica. Se o comandante da política econômica do governo, com poder quase ilimitado sobre benesses e vantagens, estiver envolvido na famosa ''propinocracia'', cairiam as barreiras que ainda protegem os presidentes da República aos quais serviu.
Segundo a força-tarefa da Lava-Jato, o depoimento de Eike Batista seria comprovado por quebra de sigilos que rastreariam o caminho dos R$ 5 milhões pagos a título de propina. Perto do tamanho dos contratos – o de montagem das plataformas P-67 e P-70 equivalia a R$ 3,2 bilhões hoje –, é um valor pequeno. A questão é estabelecer a conexão. Caso fique comprovada, é mais um tiro fatal na política de conteúdo nacional, que ajudou a abrir espaço para negociações.