A decisão da venda das operações de engarrafamento e distribuição da Coca-Cola no Rio Grande do Sul e em parte de Santa Catarina passou por uma questão de sucessão familiar. O fundador da empresa, João Jacob Vontobel, está com 87 anos e seus dois filhos, Rodrigo e Ricardo, que já ocuparam funções de gestão no grupo gaúcho, estão em outro momento.
Para evitar problemas no julgamento da venda no Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência (Cade), a família não comenta os motivos da venda, mas interlocutores dos Vontobel ouviram comentários sobre incertezas relacionadas à sucessão. Ou seja, o que teria sido determinante na decisão de passar o negócio adiante não foi a crise no país, que vai amainar mais dia, menos dia, mas o momento específico da família.
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A negociação marca o fim de uma era no Estado. Na década de 1960, quando a família Vontobel começou a consolidar a produção do refrigerante mais popular do planeta, no Rio Grande do Sul a marca que liderava o mercado era a Pepsi-Cola. Foi sob o comando do ‘’general’’ João Jacob, que a Coca internacional viu cair a cidadela da Gália gaúcha, que resistia à liderança da marca junto com a Venezuela.
Isso só ocorreu a partir da segunda metade dos anos 1980, quando os Vontobel assumiram o negócio. Esse feito deu à empresa familiar uma condição especial frente à multinacional com sede em Atlanta (Georgia, EUA), a ponto de as rígidas normas de marketing terem sido flexibilizadas para permitir que a marca não usasse o vermelho para patrocinar o Grêmio, time do coração de Ricardo Vontobel.
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O negócio obedece à estratégia global da Coca-Cola de consolidar sua rede de distribuição, que acompanha as crescentes aquisições da marca de bebidas não gasosas, até porque o consumo de refrigerantes vem caindo em todo o mundo. Além de simplificar a operação, a transação permite os chamados “ganhos de sinergia” resultantes de concentração. No caso da compra da Vonpar Bebidas, a estimativa é de economizar cerca de R$ 65 milhões em até dois anos.
Os Vontobel mantêm o controle da centenária Neugebauer, comprada em 2010. É uma operação bem menor do que a de bebidas, mas segundo interlocutores, a família tem a intenção de expandir a fábrica de chocolates dona das marcas Bib’s, Refeição e do tradicional Mu-Mu, tanto na produção quanto no varejo – já tem uma loja em Porto Alegre, no Viva Open Mall.