Com a compra da Monsanto, a Bayer, mais conhecida por aqui por ser a fabricante da popular Aspirina, assume uma nova dimensão entre os gaúchos. Vai encarar um passivo judicial com parte dos produtores gaúchos, uma dívida de gratidão com outra parte, que enriqueceu graças à soja transgênica, e ainda um lugar especial, senão na memória afetiva, no histórico de conflitos do Estado. Sojicultores gaúchos que questionam a cobrança de royalties (direitos de patente) sobre as sementes da Monsanto movem uma ação com valores estimados em R$ 15 bilhões.
Um dos episódios marcantes da tumultuada trajetória da marca no Rio Grande do Sul é o da invasão de uma unidade experimental de transgênicos em Não-Me-Toque, em janeiro de 2001, com a presença do ativista francês José Bové, convidado para o Fórum Social Mundial. Na época, Bové protagonizou o que poderia virar um filme de aventura: fugiu do cerco policial com seguranças do Movimento do Trabalhadores Sem-Terra (MST), chegou a ser preso pela Polícia Federal e recebeu ordem de expulsão. Acabou liberado pela Justiça, que rejeitou o cancelamento de seu visto de turista.
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Hoje, o caso parece engraçado, mas na época, quando a soja transgênica ainda enfrentava pesada oposição no Estado – hoje responde por quase 90% do cultivo do grão –, gerou a habitual divisão de paixões entre os gaúchos e muita indignação por parte dos produtores. Bové hoje deve estar espumando: a compra da Monsanto pela Bayer representa forte concentração do mercado mundial de herbicidas, estimada em 28%. Também se fortalece no mercado de sementes de trigo, milho e soja nos Estados Unidos.
Segundo o jornal The Wall Street Journal, juntas, a Bayer e a Monsanto controlariam 28% das vendas globais de herbicidas. Não por acaso, o negócio ocorre justo quando cresce não mais a pressão contra os fabricantes de defensivos agrícolas, mas outro movimento, mais proativo, de valorização da produção orgânica. O negócio de US$ 66 bilhões estava mais do que anunciado: teve idas e vindas em torno do valor final desde maio. Como boa parte desse valor será pago em dinheiro, não representa troca de ações como a grande maioria das fusões e aquisições, é apontada como uma das maiores transações em movimentação efetiva de recursos. E ainda entra na lista das 15 maiores operações comerciais da história.
Veja o ranking das maiores fusões da história:
1. Por US$ 180,95 bilhões, Vodafone compra Mannesman em 2000
2. Por US$ 164 bilhões, AOL adquire a Time Warner em 2000
3. Por US$ 130 bilhões, Verizon fecha negócio com a Wireless Unit em 2013
4. Por US$ 104 bilhões, InBev compra a Miller em 2015
5. Por US$ 90 bilhões, Pfizer adquire a Warner-Lambert em 2000
6. Por US$ 86 bilhões, AT&T compra a BellSouth em 2006
7. Fusão de US$ 81 bilhões cria a Exxon Exxon Mobil Corporation em 1999
8. Por US$ 75,7 bilhões, Glaxo Wellcome compra a SmithKline Beecham em 2000
9. Por US$ 74,5 bilhões, Shell e Royal Dutch anunciam fusão em 2005
10. Por US$ 72 bilhões, Comcast compra AT&T Broadband em 2001
11. Por US$ 70 bilhões, Citicorp e Travelers Group fecham negócio em 1998
12. Por US$ 68 bilhões, Pfizer adquire Wyeth em 2009
13. Por US$ 66 bilhões, Bayer compra Monsanto em 2016
Fonte: Yahoo! Finance