A onda começou ainda na segunda-feira, pelas redes sociais. O artigo do colunista do The New York Times Roger Cohen, publicado naquele dia no site do jornal americano, passou a ser compartilhado entre economistas, evoluiu para timelines menos especializadas e virou tema de debate interno. Só não “quebrou a internet”, como outros assuntos menos relevantes e mais picantes.
Coheh, correspondente no Brasil por 30 anos, diz estar cansado de ler artigos negativos sobre a Olimpíada no Brasil. Lembra que estava no país nos anos 1980, quando se dizia que a única saída para os brasileiros era o Galeão – ele morava no Rio. Mas lembra de ver a miséria assombrosa nas favelas e, ao perguntar ''tudo bem?'' ouvia um ''tudo bem'' como resposta, acompanhado de largo sorriso.
Cohen lista temas levantados pela cobertura da Olimpíada – raiva nas favelas, violência sem trégua, oceano entre ricos e pobres – e levanta um ponto que também intriga a coluna: afirma não lembrar de reportagens nas áreas mais pobres e expostas ao crime de Londres nos Jogos Olímpicos de 2012.
O articulista lembra Edmar Bacha e sua clássica comparação para o Brasil, a Belíndia – leis e impostos da Bélgica, realidade social da Índia, para quem não lembra. Cohen avalia que hoje a melhor representação seria a Franconésia – muito de França, coberto de Indonésia. Não é muito lisonjeiro, mas está empacotado com os avanços do país desde a década perdida. Ele não esquece de mencionar corrupção e impeachment, mas pondera que o país é inegavelmente um grande ator da economia do século 21.
Cita até José Mindlin, uma rara combinação de empresário e intelectual, para lembrar que seu mantra não era a preocupação com o futuro, mas com o final do mês. E conclui que o Brasil é um cemitério de “naysayers” (pessoas que só dizem não), que os dicionários autorizam a traduzir como descrentes, céticos ou cínicos.
Se não vivemos dias de crença e confiança fáceis, é no mínino didático perceber que alguém, no Exterior, vê o Brasil melhor do que os brasileiros avaliam seu país. Não se trata de política ou economia, mas de atitude. É quase impossível encontrar alguém otimista nestes dias no país da Olimpíada. Mas Cohen afirma que imagens como a medalha de ouro para a judoca Rafaela Silva, da Cidade de Deus, fazem com que as crianças das favelas tenham outras referências. E novos sonhos.