Na entrevista concedida ao jornal Valor Econômico, o presidente interino Michel Temer deu uma informação que acabou um tanto empalidecida por outras declarações: no dia 25 de agosto, o Planalto anunciará que empresas vai privatizar. Para preparar os espíritos, avisou que a Eletrobras fica fora do pacote. Pelo tamanho da estatal excluída, vê-se que a ambição do pacote não é pequena. Para não deixar dúvidas, Temer reforçou que pretende “desestatizar muita coisa, porque o Estado brasileiro não pode suportar tudo isso, já não cumpre bem seu papel na saúde, na educação”.
Para Temer, os tempos da política e da economia são diferentes. É fato. Mas seu papel na história, como ele mesmo se encarregou de proclamar, é diminuir essa distância. Na semana em que recebeu um grupo de empresários que foram levar suas inquietações, o presidente interino afiou o discurso e acelerou o cronômetro. Embora conte com maciço apoio do PIB nacional, em três meses o governo interino começou a ser visto com mais desconfiança do que em sua estreia, tanto por sinais vindos da Operação Lava-Jato quanto por equívocos nas escolhas da equipe, mas acima de tudo por sucessivos recuos.
Se o trecho da desestatização não teve impacto imediato, outro mostrou o poder de fogo da cadeira presidencial. Mesmo depois de o presidente do Banco Central (BC) ter mostrado pouca disposição para baixar a temperatura cambial, Temer admitiu que o assunto foi tratado com empresários e defendeu “certo equilíbrio”, ponderando que não pode “ter um dólar num patamar elevado, nem um dólar derretido”. No mercado, a moeda voltou a subir mais de 1% ante o real, com a cotação comercial chegando a R$ 3,1850.
Eram as duas principais queixas do setor privado em relação ao governo Temer: a dificuldade em garantir apoio a medidas de pouco teor explosivo, que projeta grandes dificuldades para as mais polêmicas, e a insensibilidade para com uma das alavancas da reação ainda instável da economia. Se a produção industrial acumula quatro meses de variação positiva – sobre uma base muito fraca, é verdade, mas algo que não se via há anos –, é em boa parte fruto do aumento possível de competitividade neste momento de fragilidade. Da desestatização ao câmbio, da reforma da Previdência à trabalhista, o governo interino precisa transformar expectativas em propostas tão ousadas quanto permite a sua legitimidade.