Apesar das divergências sobre profilaxia e prognóstico, há certo consenso sobre o diagnóstico: o Brasil está mal e precisa de tratamento. E quando o remédio é amargo, é difícil convencer o paciente a aderir. Se falta firmeza na apresentação do quadro que o convença da gravidade da situação, fica ainda mais complicado.Quando o governo apresentou a famosa “meta” de déficit fiscal de R$ 170 bilhões neste ano, parecia que uma etapa havia sido vencida. O caso era grave, portanto demandava disciplina severa. Na sequência, uma fileira de liberalidades adoçou as doses.
Entre pressões e concessões, chegamos à enésima: a resistência das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, irrigadas por fundos de desenvolvimento regional, ameaça a aprovação da PEC do teto das despesas.Muitos economistas compartilharam uma frase aparentemente paradoxal: o Brasil não pode perder essa crise. Embutida na expressão, está a noção de que remédios amargos só são sorvidos em casos extremos. Até agora, ficou tudo no receituário.
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O avanço do impeachment e a coleção de recuos de Temer
O mercado financeiro flerta, há algumas semanas, com a expectativa de uma “inundação” de capital externo assim que for concluída a votação do impeachment. Analistas internacionais avaliam que as ações de empresas brasileiras se desvalorizaram excessivamente no ano passado. Sinais de estabilização do humor se multiplicam, mas ainda não há indicadores concretos de retomada. Para o governo interino de Michel Temer, o mercado deu mais do que o benefício da dúvida, sustentou discurso e ajudou a melhorar o clima. Mas a enxurrada de capital, caso se confirme, não vai contribuir para a solução dos problemas diagnosticados caso se restrinja ao mercado especulativo.
Em privado, a interlocutores da área econômica, integrantes do governo Temer garantem total alinhamento sobre a necessidade das reformas que vão representar dificuldades tanto para quem as conduz quanto para quem será alvo das medidas. Em público, avanços e recuos ainda dão a impressão de hesitação e escassez de velocidade para uma intervenção urgente.