Para um presidente que assumiu com o compromisso de corrigir excessos nas despesas públicas, o interino Michel Temer contraria expectativas. Também tem aplicado o inverso da lição clássica de Nicolau Maquiavel, autor de O Príncipe: fazer o mal de uma vez e o bem aos poucos. O que já é chamado de “pacote de bondades” começa a instilar preocupação até entre analistas críticos do governo Dilma.
Para o Conselho Federal de Economia, os 50 dias de governo já permitem identificar os rumos para a superação da crise. Róridan Duarte, coordenador da comissão de política econômica da entidade, pondera que, diante do fato de que 2016 já estava precificado, tanto em resultado orçamentário quanto em queda do Produto Interno Bruto (PIB), as benesesses são um custo para comprovar apoio no Parlamento e mostrar que o governo reassumiu o controle da agenda. Avalia, ainda, que os principais pontos – renegociação das dívidas dos Estados, reajuste para servidores e Bolsa Família – ou eram indispensáveis ou representaram, de fato, um “bom negócio” para o governo:
– Quando chegar a hora das reformas mais polêmicas é que vamos saber se esse preço foi em conta ou se a estratégia sairá caro.
O que mais inquieta o Cofecon é o futuro. Indexar o teto das despesas à inflação medida pelo IPCA embute risco de que agentes públicos sejam lenientes com alta de preços. Mais correto, pondera Duarte, seria atrelar à variação do PIB. Refletiria melhor a situação do país e incentivaria setores público e privado a focar no crescimento que, ao final, é o que importa.