Está difícil apostar alto na recuperação da economia.Bem no dia em que a mais ousada medida concebida pelo governo interino foi apresentada, a delação de Sérgio Machado respingou em Michel Temer. A reação, no início da tarde, foi uma queda vertiginosa na bolsa.
Mas o mercado digeriu o que viu – um suposto pedido de Temer para a campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo em 2012. Se o episódio do dia foi considerado pouco relevante, analistas destacaram o aumento das incertezas em relação ao governo Temer.
Outra surpresa foi com a insistência do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, no longuíssimo prazo que deseja impor ao teto dos gastos públicos: 20 anos, com revisão a partir do 10º. A maioria dos falcões das contas públicas pondera que a restrição de aumento das despesas à inflação do ano anterior é dura e só poderia vigorar no curto prazo, até que ficasse clara a inversão da trajetória da dívida.
É neste ponto que a incerteza crescente com a política e o desejo de medidas de longo prazo se cruzam. Se o futuro estivesse mais nítido, o período de vigência de medidas quase excepcionais – ao menos na história do Brasil –poderia ser menor. Com nuvens cinzentas se acumulando no horizonte, melhor aumentar o diâmetro do guarda-chuva, pensa, mas não diz, Meirelles.
Ao justificar seu foco, o ministro situou o aumento exponencial das despesas da União ainda em 1997, portanto antes até da Lei de Responsabilidade Fiscal. E voltou a evitar números detalhados, preferindo falar em “confiança” e “credibilidade”. Meirelles acertou ao submeter ao teto Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público e até a famigerada rubrica “restos a pagar” que, afinal, têm de ser quitada. O restante do pacote de maldades, incluindo a desvinculação de benefícios pagos pelo INSS do salário mínimo, ficou para mais tarde. De sustos, o dia 15 de junho já estava bem sortido.