Apontado como maior investidor pessoa física na bolsa brasileira, antes da entrevista à coluna Lírio Parisotto para um minuto para conferir o celular e observar, satisfeito, que o mercado começava bem a tarde de segunda-feira. O bilionário nascido em Nova Bassano que se notabilizou por investimentos feitos na Zona Franca de Manaus começou a voltar aos pagos em 2014, com a compra da Innova, produtora de monômero e polímero de estireno.
Um ano e meio depois, inaugura sua primeira expansão, a unidade de produção de poliestireno expansível (EPS) com nova tecnologia e marca Newcell. O empreendimento de R$ 100 milhões é apenas o primeiro de uma série que chega a R$ 1,2 bilhão. E brinca, sobre as origens:
– Sou um gaudério de volta à pátria amada.
Como foi sua trajetória do varejo em Caxias até um naco da indústria petroquímica?
Sou um gaudério de volta à pátria amada. Saí do varejo para a área industrial de serviços. Na Videolar, fabricava disquetes, CDs, DVDs, blu-ray. Alguns desses suportes morreram, outros são ameaçados por novas mídias e novos hábitos de consumo. Decididimos vender para a Sonopress Rimo. Como a matéria-prima das embalagens era poliestireno, percebi que havia oportunidades nessa área. Já havíamos avaliado a possibilidade de unir as operações de estireno de Brasil e Argentina na época da venda da Perez Companc à Petrobras, mas não foi possível. Quando a Petrobras colocou à venda, oferecemos o melhor preço. Metade do poliestireno expadido (isolante térmico usado desde em grandes construções, como estradas e pontes, até pequenos produtos como copos descartáveis) ainda é importado, assim como cerca de um terço do monômero de estireno (matéria-prima para o poliestireno, tintas e borrachas).
Qual foi o investimento na unidade de produção ESP em Triunfo e quais os próximos projetos?
O investimento na NewCell é relativamente pequeno, de R$ 100 milhões. Mas temos uma carteira de projetos que chega a R$ 1,2 bilhão que começaremos a tocar a partir de agora. A unidade de poliestireno expandido está pronta, tem uma tecnologia nova, mais prática para os clientes, Ainda vamos transformar a unidade de poliestireno cristal (GPPS) em uma planta flexível que vai começar a produzir ABS, será a primeira do Brasil.
ABS sempre foi uma lacuna na petroquímica brasileira...
Ainda ninguém produz, nós começaremos a fazer, queremos tudo pronto até o final do próximo ano. O ABS é um plástico de engenharia, mas eu brinco dizendo que é um PS engravatado, porque tem mais brilho. Para 2018, queremos fazer o grande projeto, da ordem de US$ 200 milhões (em valores de hoje, cerca de R$ 700 milhões), que é o aumento da capacidade de monômero de estireno. Queremos duplicar, mas vai depender da disponibilidade de matéria-prima. Temos o suficiente para aumentar em ao menos 50%, mas estamos negociando com a Braskem, para transformar parte do tolueno, hoje usado para produzir gasolina, em benzeno, que hoje é o grande gargalo. Estireno é 24% eteno, que está disponível, e 76% benzeno, que seria preciso ampliar para duplicar a unidade. Também temos um projeto de produção de energia elétrica a partir de biomassa (cavacos de madeira), esse menos definido. Mas estou muito entusiasmado com investimento em energia elétrica.
Por que tanto a compra da Innova quanto os novos investimentos estão sendo feitos em momento de crise?
Sobre o futuro, não sei nada, e quem acha que sabe não sabe. Agora, uma coisa eu sei: crises não são eternas. E esta, que é a maior que já vi, está mais para o fim do que para o começo. Quero estar na ponta dos cascos para quando os mercados melhorarem. Estamos fazendo investimentos de forma que possamos suportar em momento de crise, dentro da nossa capacidade financeira.
O senhor é sempre apontado como um dos maiores investidores pessoa física na bolsa. Segue assim?
Não sei se é verdade, mas se essa informação procede, também sou um dos maiores perdedores. Nos últimos quatro a cinco anos, o mercado de capitais ficou tenebroso. Continuo com minhas ações, mas a carteira, que já foi de R$ 3 bilhões, agora é de R$ 1 bilhão. E estou preocupado, porque tomamos emprestado cerca de 60% do total da compra da Innova, claro que em nome das empresas, cuja conta, no final, deu certa de R$ 1,3 bilhão. Estamos pagando em dia, estamos adimplentes mas estamos endividados.