Depois da frustração com os repique de inflação dos dois meses anteriores e da ata do Comitê de Política Econômica do Banco Central (Copom-BC), o IPCA-15 divulgado nesta terça-feira pelo IBGE, considerado uma espécie de prévia do mês, regulou o fogo do dragão. O resultado de 0,4% veio abaixo da mais otimista das perspectivas, reabrindo a porta para uma futura redução da taxa básica de juro.
Com o resultado, a taxa em 12 meses recua de 9,62%, acumulada até o mês anterior, para para 8,98%. O percentual ainda está muito acima do teto da meta admitido pelo BC, mas é menos desconfortável do que o nível anterior para que se volte a pensar em um corte futuro.
No cenário de sinais vitais mistos da economia – alguns começam a mostrar que o fundo do poço pode ter sido atingido e superado, outros seguem o mergulho na direção do abismo –, nenhuma medida seria tão decisiva para a recuperação da economia quanto a redução do juro, tanto pelo efeito direto da redução do custo do crédito quanto pelo efeito simbólico.
Se a economia mostra esforço para sair do buraco, sua irmã siamesa, a política, não tem a mesma capacidade. Ao explicar por que vai começar a operar na Argentina, mas ainda não tem planos para o Brasil, o presidente da Ryanair, Declan Ryan, disse ontem, em Buenos Aires, que começou a negociar com todos os países da América Latina, menos o Brasil, porque “há muita corrupção”. E, convenhamos, a Argentina está às voltas com a investigação da rota do dinheiro K que embora envolva menos recursos, tem episódios ainda mais impressionantes do que os exibidos pela Operação Lava-Jato no Brasil.
Com recursos públicos esgotados – federais e estaduais – e empresas fragilizadas, o país tem investidores estrangeiros como uma das poucas opções para financiar empreendimentos. São eles que poderão injetar recursos nos programas de concessão e de privatização que começam a se desenhar. Mas se a percepção geral for semelhante à de Mr. Ryan, as luzes verdes que piscam no painel dos sinais vitais da economia não permanecerão acesas.