Bastaram surgir os primeiros diagnósticos das consequências do Brexit, saída do Reino Unido da União Europeia (UE) para que se inventasse uma nova palavra para um novo sentimento: Bregret (Britain regret, ou arrependimento britânico). O final de semana foi de revisão: protestos contra o resultado da votação, petições com milhões de apoiadores pedindo nova consulta, ameaça da Escócia de vetar a retirada do condomínio de países do bloco europeu.
Autoridades da União Europeia, ao contrário do que se esperava, não adoçaram o discurso para aliviar o impacto, ao contrário. Endureceram ainda mais a conversa.Presidente da Comissão Europeia, espécie de órgão de administração do bloco, Jean-Claude Junker avisou que. “depois de tudo”, a saída dos britânicos não será um “divórcio amigável”. Acrescentou que não vê motivo, como havia anunciado o primeiro-ministro demissionário David Cameron, sobre os próximos passos, para encaminhar os papéis da separação só em outubro.
O objetivo do comando em Bruxelas, sede da UE, para apressar o rompimento não é punir os britânicos pela decisão de se afastar do bloco europeu, mas reduzir o imenso passivo de incertezas embutido em um processo sem precedentes. Só agora, ao examinar as potenciais consequências da decisão, os britânicos deparam com fatos como o de que metade da receita das propriedades rurais no Reino Unido ser proveniente da política agrícola comum e seus gigantescos subsídios internos, que desesperam produtores brasileiros.
Nos quatro países que formam o Reino Unido – Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte –, existem 3 milhões de pessoas que vivem e trabalham com passaportes de outros países da UE. Terão de fazer vistos especiais? Como será a transição entre direitos irrestritos e restrição aos direitos? Uma das informações filtradas para o começo da conversa de separação era a de que os britânicos queriam o melhor dos mundos: manter o status de livre comércio, sem liberdade de circulação de pessoas. Se o discurso for esse, as negociações serão intermináveis.
Outro epicentro de incerteza é a City londrina, onde se concentram bancos de todo o planeta, beneficiados exatamente pela liberdade de circulação de capitais e pessoas chancelada pela União Europeia. Bastou o anúncio da vitória do Brexit para que as instituições financeiras passassem a calcular como terão de se reestruturar para enfrentar a nova realidade. Boa parte estuda mudança para Frankfurt (Alemanha), outra metrópole financeira da Europa, ou Dublin (Irlanda), que não só se mantém no bloco como usa o euro como moeda. O número de cortes pode ficar na casa das dezenas de milhares.
Se o Brasil passou relativamente bem pela primeira onda de impacto – em comparação a outros mercados –, nada garante que siga assim. Analistas convergem em dois pontos: há menos gordura para queimar e a recente descoberta do fundo do poço da economia parecer ser sólida. Mas diante de tremor tão intenso, será preciso estar atento ao risco de réplicas, como nos grandes terremotos.