Às vésperas de completar um ano na prisão, o empresário Marcelo Odebrecht reviu seu sistema de valores e aceitou delatar. Todos ainda lembramos de suas declarações iniciais condenando a ''deduragem'' – na inútil CPI da Petrobras, perguntado se faria delação premiada, disse que esse comportamento não fazia parte de seus valores e chegou a ilustrar a atitude afirmando que, em uma briga entre suas filhas, ''talvez brigasse mais com quem dedurou do que com quem fez o fato''.
A lembrança é importante para realçar o que significa a colaboração de Odebrecht, o mais graúdo dos empresários presos pela Operação Lava-Jato. Se um ano de cárcere o fez mudar seus valores, é preciso que o peso de sua delação mude o país. Alguns políticos, de forma sincera, outros cinicamente, já avaliam que as declarações do ex-presidente da maior multinacional brasileira enterram uma forma de fazer política. Os cínicos certamente já buscam outras ''fontes de financiamento''.
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Ainda se sabe pouco do que disseram Odebrecht e o presidente da OAS, Léo Pinheiro, e já é muito. Recursos desviados de sua finalidade teriam irrigado as campanhas dos dois candidatos à Presidência no segundo turno de 2014, Dilma Rousseff e Aécio Neves, de 13 governadores e 36 senadores. Voltando a refrescar a memória, as planilhas do Deprop tinham um número ainda maior de nomes. Deprop, para quem não lembra, foi como se tornou conhecido, informalmente, o setor destinado ao pagamento de propinas, com funcionários e sistema eletrônico específicos, identificado pela Polícia Federal na Odebrecht.
Ao dinamitar reputações de forma suprapartidária, espalhando fragmentos tanto na direção dos ''suspeitos de sempre'' quanto em nomes nunca dantes envolvidos nos detritos, as duas delações implodem qualquer tentativa de acordão para abafar as investigações da Lava-Jato. Os vazamentos parciais ainda podem ser insuficientes, cheios de lacunas e de acusações sem provas. Mas são suficientes para demandar uma operação muda-país.