Em abril, a CPFL avisou que estava interessada em comprar concorrentes e consolidar parte do setor elétrico. Em 45 dias, anunciou seu primeiro movimento, a aquisição da AES Sul, por R$ 1,7 bilhão. Seu presidente, Wilson Ferreira Jr., que começou a atuar no Estado, fez questão de fechar o negócio antes de passar o bastão ao sucessor já escolhido, André Dorf, que terá a missão de seguir com a consolidação.
Sempre cauteloso com antecipação de informações, Ferreira Jr. não contornou a pergunta da coluna sobre eventual interesse na CEEE. Disse não ter ''preconceito'' em relação a privatizações e admitiu:
– Faria muito sentido para nós, no futuro, reunificar a distribuição no Rio Grande do Sul. Esse momento revela aos agentes de mercado um momento mais favorável para transações, como se ouve falar sobre distribuidoras da Eletrobras. Não há dúvida de que Estados com mais dificuldade terão de avaliar privatizações. A CPFL vai olhar com muita atenção o tema da CEEE.
O assunto é polêmico, mas o debate é necessário. A CEEE-D está ameaçada de perder a concessão caso não cumpra critérios de qualidade e econômico-financeiros definidos pela agência reguladora, a Aneel. Para evitar, precisaria investir, e dinheiro não há.
Com o mercado dividido entre três distribuidoras, ficava menos desconfortável para a estatal exibir maus indicadores. Com só uma competidora, aumenta a exposição da CEEE-D.
Embora Ferreira Jr. expresse otimismo e projete que a primeira aquisição privada de uma distribuidora de energia em muitos anos possa destravar a consolidação do setor, há analistas mais céticos. Rafael Herzberg, sócio da Interact Energia, avalia a compra da AES Sul como um ''negócio de oportunidade''. Para o especialista, a CPFL é uma ''empresa forte, atípica no setor'', enquanto investidores estrangeiros como a AES estão saindo do país:
– O setor elétrico está totalmente desestruturado, o que leva investidores a se desinteressar. Temos uma das tarifas mais altas do mundo e, em paradoxo, empresas descapitalizadas.
O analista está especialmente preocupado com a situação das subsidiárias da Eletrobras, estatal com a segunda maior dívida da República: R$ 48,2 bilhões.
Um dado que apoia a inquietação de Herzberg é o valor pago pela CPFL pela AES Sul, pouco acima da quantia que havia arrematado a área de concessão em 1997, de R$ 1,5 bilhão, em termos nominais. Em quase 20 anos, em vez de o preço se multiplicar, encolheu: atualizado, seria R$ 6,7 bilhões.