Por vários motivos, a nova secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, deve ser uma pessoa de coragem. Será a primeira mulher a assumir o cargo marcado como o laboratório das “pedaladas fiscais”, causa mais entendida do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Mais, assume um Tesouro depauperado, com a perspectiva de um déficit multibilionário, depois de ter ajudado a transformar o Espírito Santo em uma ilha no cenário de crise das unidades da federação.
Como se fosse pouco, não embarcou na primeira leva da equipe econômica, ainda embalada apenas por perspectivas de mudança positiva na economia, mas em um governo já cercado de suspeitas e pressionado tanto por aliados com agendas particulares quanto por adversários com objetivos de desestabilização.
No Espírito Santo, o ajuste de contas comandado por Ana Paula, como secretária da Fazenda, foi baseado em “ruptura de cultura” e compromisso em não aumentar impostos. Sim, soa como música para todos nós. Embora o Tesouro seja uma pasta de peso na Fazenda, vale o diagnóstico do ministro Henrique Meirelles: tributos serão criados, ainda que temporariamente, se for necessário.
Ana Paula era secretária do peemedebista Paulo Hartung e trabalhou na assessoria de um senador do PSDB. Mas também compartilha estudos com Marcos Lisboa, não exatamente um ortodoxo de carteirinha. Nas contas capixadas, aplicou um corte de custeio de mais de 30% em 2015, sem considerar a inflação, preservando políticas sociais do governo. E, além de tudo, aceitou uma cadeira que outros consideraram desconfortável.