Um pouco porque havia expectativa de que fossem anunciadas imediatamente após a posse, um pouco porque se especulou muito e não veio tudo o que foi ventilado, as primeiras medidas econômicas do governo interino de Michel Temer vieram na direção certa, mas com baixo poder de fogo. Dos sete anúncios, alguns são apenas intenções, caso da reforma da Previdência, outros continuidade de políticas já anunciadas.
O que importa: antecipação do pagamento de R$ 100 bilhões do BNDES ao Tesouro, sendo R$ 40 bilhões neste ano, R$ 30 bilhões em 2017 e R$ 30 bilhões em 2018, limite das despesas ao executado no ano anterior, corrigido pela inflação do período, e fim do Fundo Soberano. Mesmo o teto das despesas veio abaixo do esperado.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, quando falou pela primeira vez no assunto, usou a expressão ''âncora nominal'', ou seja, não incluiria a inflação. Argumentou até que a medida ajudaria a combater a desindexação da economia. Houve um recuo. As despesas terão correção pela inflação, sim, do período anterior. Não passaram a impressão da grande austeridade desejada pelo governo. O Fundo Soberano representa cerca de R$ 2 bilhões, dinheiro em qualquer latitude, mas pouco frente ao déficit anunciado de R$ 107,5 bilhões. E a antecipação dos recursos do BNDES, ressalvaram Temer e Meirelles, depende de ''avaliação jurídica''. O economista José Roberto Afonso, ligado ao PSDB, já explicou por que: hoje, a Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe a antecipação. É o maior volume de recursos, mas vai enfrentar obstáculos legais.
Todo o foco não está no tema de hoje, que é a aprovação da meta de déficit primário de R$ 170,5 bilhões, mas na trajetória da dívida pública a médio prazo – leia-se até 2018. Os R$ 100 bilhões do BNDES, por exemplo, não impactam o orçamento, mas aliviam a dívida, projetada para 80% do PIB neste horizonte de tempo caso nada fosse feito. Temer e seus ministros avisaram que essas são as primeiras medidas. Serão complementadas por outras. E Meirelles voltou a sinalizar que ''num primeiro momento'' não haverá aumento de impostos, mas poderá haver ''em algum momento, temporariamente''. Preparem os bolsos, o dinheiro sumiu.