O anúncio de Pedro Parente para a presidência da Petrobras, um dia depois da suspensão da negociação dos papéis da Eletrobras na bolsa de Nova York, expõe a ponta do mesmo iceberg: a ponta aparente de um problema muito maior. Na Petrobras, Parente colocará à prova a fama de gestor de crises. Terá de encontrar a solução para uma das maiores dívidas corporativas do planeta, de mais de meio trilhão de reais, sem descontar o valor em caixa.
Parente terá de enxugar a maior estatal do Brasil. No governo Temer, tende a cair a exigência de participação da Petrobras em 30% de todos os investimentos do pré-sal. Já foi privilégio, virou condenação, na avaliação até de nacionalistas de carteirinha. Não será suficiente. Se é certo que a petroleira ainda tem gordura para cortar, embora muita já tenha sido queimada na gestão de Aldemir Bendine, a volta à tona será desafiadora. Para dizer o menos.
Se na Petrobras ao menos se sabe o tamanho da encrenca, na Eletrobras o mistério sobre a real situação das contas é tal que o governo decidiu deixar a estatal fora da estimativa do novo déficit primário que será encaminhado ao Congresso na segunda-feira.
Deve aliviar a evolução do "rombômetro", que nesta quinta-feira bateu em incríveis R$ 200 bilhões, mas em algum momento vai entrar na conta. Nem os operadores de mercado são unânimes sobre o diagnóstico da pior consequência, a obrigatoriedade de recomprar todos os títulos suspensos, com custo estimado em R$ 40 bilhões.
A causa da suspensão é a recusa da KPMG em chancelar sem ressalvas o balanço de 2014, diante da da incerteza sobre perdas com corrupção. É bom lembrar que Furnas faz parte do sistema Eletrobras, assim como mais de uma centena de parcerias em projetos diversos. No ano passado, o prejuízo foi de R$ 14,4 bilhões. No primeiro trimestre, mais R$ 3,9 bilhões.