Depois do ''áudio ao povo brasileiro'' do vice-presidente Michel Temer, voltaram a crescer especulações sobre o desenho de um eventual governo com Temer no comando. Para muitos economistas, o áudio tem exatamente a mesma intenção da Carta ao Povo Brasileiro de 2002, no sentido inverso.
Na época, tratava-se de acalmar o mercado. Hoje, o objetivo seria tranquilizar a população sobre a manutenção de programas sociais e suavizar o tom mais ''fiscalista'' do programa Uma Ponte para o Futuro, que havia virado fonte de ataques.
Embora empresários estejam amedrontados com a fórmula da saída da crise, potenciais aliados de Temer tratam de adoçar o discurso. Em Porto Alegre ontem para reiterar a disposição de investir no Estado, Luiz Carlos Mendonça de Barros, presidente da Foton Aumark Brasil e ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso, confirmou que o PSBD estará disposto a compor:
– O governo Temer, se acontecer, vai replicar um pouco o de Itamar Franco. Vai haver responsabilidade de vários partidos, inclusive do PSDB.
Economista, o ex-ministro diz que desfazer o nó não é tarefa de mágico:
– O Brasil tem uma vantagem: se juntar seis ou sete economistas, todos já sabem o que tem de fazer. A Dilma não fez porque não acredita. Vamos discutir o que fazer com juro, câmbio, inflação.
E o que tem de fazer?
– Não tem de fazer nada. É simplesmente parar de gastar os recursos fiscais. A inflação está caindo. A Dilma vai passar para a história com uma única obra positiva, a recessão. Quando você volta para 2013, 2014, o Brasil vivia uma superexcitação. Era, claramente, o momento de esfriar a economia. Ela fez o oposto, tentou esquentar, e deu essa confusão. Mas ao menos, vamos sair de 2016 com os preços relativos alinhados, a taxa de câmbio bastante favorável, com saldo comercial de US$ 50 bilhões e déficit em conta corrente no fim do ano praticamente zero. Essas são condições macroeconômicas adequadas para que se consiga crescer de novo. Só falta o quê? Credibilidade. De que não vai inventar mágica, de que vai cuidar das contas públicas e trabalhar para redução do endividamento. Se a economia e o emprego voltarem a crescer, o consumidor poderá ir aos bancos, e com a inflação ancorada ali perto da média, os bancos poderão reduzir os juros.