Quase todos conhecem o ditado popular "em casa que não tem pão, todos gritam e ninguém tem razão". É um bom resumo de um Brasil em crise que tem dificuldade de construir pontes entre a recessão que ameaça se estender e as saídas possíveis para uma situação complexa. O ex-presidente se lança candidato para 2018 e a atual reclama que a oposição quer "antecipar a eleição". A oposição tenta obstruir com tecnicalidades a indicação do ministro da Justiça.
Se não é semana para cobrar soluções para a economia, já que o foco está todo nas manifestações do dia 13, ao menos dá para esperar que não se piore a situação de forma intencional. Depois da arrancada da semana passada, a melhor desde 2008, a bolsa parou para refletir nesta segunda-feira e passou o dia oscilando entre altas e baixas pouco acentuadas. O sinal de alerta veio da preocupação com os bancos, às voltas com pedidos cada vez mais numerosos de reestruturação de dívidas.
Mais do que uma semana histórica em relação a si mesma, a bolsa brasileira teve resultados recordes também se comparada com alguns pregões globais se tomado o período de "fundo de poço" para os mercados internacionais, localizado em algum ponto do início de fevereiro (cada mercado teve uma data específica de mínima, mas com poucos dias de diferença), conforme levantamento do economista-chefe da Nova Futura Corretora, Pedro Paulo Silveira.
Se o cenário interno é controverso, com boa parte do mercado apostando no enfraquecimento do governo mas analistas ponderando que as chances de um mandato mais curto seguem rigorosamente iguais – ou seja, baixas –, no mercado externo a controvérsia não é menor.
Se as cotações do petróleo não param de subir – nesta segunda-feira, encostaram em US$ 40 – e as do minério de ferro ensaiam uma recuperação que beneficia mineradoras e siderúrgicas no Brasil, ainda há muita desconfiança com a capacidade de sustentação desse movimento.
A tabela ali de cima mostra com clareza que o humor dos investidores melhorou em várias praças, mas têm aumentado os relatos de fundos internacionais que estão fazendo operações parecidas com os dos personagens de A Grande Aposta, o filme sobre investidores que se movimentaram prevendo o grande crash de crédito de 2008. A incerteza não é exclusividade do Brasil, mas por aqui a sensação é mais aguda e perene do que em vários outros mercados.