O maior prejuízo da história da Petrobras foi registrado no quarto trimestre do ano passado, com perda de R$ 36,94 bilhões. Foi o período em que o preço do petróleo mergulhou e a empresa fez uma nova baixa no valor de seus ativos (o tal do impairment), de também recordes R$ 46,39 bilhões. Durante a segunda-feira, o mercado não parecia especialmente preocupado com o resultado, porque as ações andaram de lado (com pequena oscilação) ao longo do pregão.
Mas um resultado tão ruim vai reforçar as preocupações sobre a saúde financeira da empresa, e o debate sobre se a estatal está ou não, como avaliam muitos analistas, “virtualmente quebrada”. Nesse debate, é bom levar em conta que o mecanismo de reavaliação de ativos (impairment) está relacionado à cotação do produto que a empresa produz, portanto é impactado pela flutuação do preço do barril. Como disse o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, “joga contra resultado, não contra o caixa, e pode ser revertido, sim”.
Poder, pode. Ter certeza é mais difícil. O próprio Bendine estima em US$ 45 o preço do barril para este ano. Seria uma recuperação, mas não tão acentuada a ponto de virar a situação de um período para outro. Outro debate que será aceso pelo resultado é o que desobriga a estatal de participar com o mínimo de 30% em todos os projetos de exploração do pré-sal – um dos muitos pontos abordados nas interceptações telefônicas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A orientação era não aprovar, mas acabou passando no Senado.
Agora, o projeto tem de ser aprovado na Câmara dos Deputados, que está com foco na comissão do impeachment. A exemplo de tantas teses conspiratórias que circulam na internet, existe a de que tudo o que está ocorrendo no Brasil é fruto do lobby das petroleiras para que essa decisão seja tomada. Duas lembranças: a medida foi defendida pelo ex-diretor-geral da ANP Haroldo Lima, nacionalista convicto, e a situação financeira da Petrobras, neste momento e por algum tempo, simplesmente não permite o cumprimento da regra.