Quando foi anunciada a condenação de Marcelo Odebrecht, a 19 anos e 4 meses de prisão, empresários e advogados especularam que a distância entre o preso mais ilustre na Operação Lava-Jato e uma delação premiada seria a necessidade de garantir a sobrevivência da empresa de R$ 107 bilhões de faturamento, com contratos em quase duas dezenas de países.
Com a prisão de mais diretores da companhia, aumentou a pressão sobre Marcelo para uma delação premiada e sobre a Odebrecht para um acordo de leniência. Tudo indica que o objetivo foi atingido. A empresa anunciou ''colaboração definitiva'' em nota, na noite desta terça-feira, e a força-tarefa avisou que ainda não há acordo, mas vai avaliar as contribuições.
A maior multinacional brasileira é responsável por seis das 10 maiores obras do PAC e tem quase 200 mil funcionários. Já na sentença, o juiz Sergio Moro recomendava o acordo de leniência como solução para questões como economia, emprego e renda. Com a gigante nas cordas, pressionada por todos os lados, esse acordo pode ter ganhado viabilidade.
Entre ter prejuízo estimado em R$ 6 bilhões com os pagamentos de compensações no Brasil, e eventuais perdas de contratos e outras sanções no Exterior, e ver a empresa sangrar sem parar, aceitar delação e leniência se tornou a saída menos ruim. O espírito do acordo de leniência é esse mesmo, preservar a empresa, os empregos, sua capacidade de gerar riqueza e pagar tributos. Mas as impactantes revelações da 24ª fase da Lava-Jato – a Odebrecht teria um departamento “secreto”, destinado ao pagamento de propinas” – abalam profundamente a credibilidade da empresa.
O “setor de operações estruturadas”, caso venha a ser chancelado pelas provas, lembra um episódio do longínquo 1993, no auge de outro escândalo nacional, o da CPI do Orçamento. Na época, o então deputado federal Eduardo Suplicy (PT), depois de uma operação de busca e apreensão na Odebrecht, saiu espalhando que a empresa dirigia uma “organização mafiosa”. Faz 23 anos.