Perdão, leitores, pela expressão em inglês, mas é daquelas de difícil tradução, ao menos em versão curta. Uma longa e informal, oferecida por uma fonte que vê com equidistância os movimentos da Operação Lava-Jato, é "se não for jogo roubado, dá errado" – e não cabe no título acima. A condenação de Marcelo Odebrecht a 19 anos e quatro meses, terá posto fim a esse modelo de fazer negócios como regra, não como exceção?
A pesada sentença não "caiu como uma bomba" (perdão, de novo, mas como negativa perde o clichê) nem no meio empresarial nem no jurídico. Outras decisões severas do juiz Sergio Moro prepararam o terreno, assim como a longa prisão de 263 dias do empresário.
– Ele está preso desde junho do ano passado, então deveria ter algo forte contra ele. Depois, é difícil julgar se a pena é severa? É severa em relação a quê? – indaga Humberto Busnello, vice-presidente da Fiergs e dono de uma construtora. André Callegari, advogado gaúcho que atua na defesa de um réu da Lava-Jato, reforça que havia expectativa de pena alta depois das decisões anteriores.
– Causaria estranheza em tempos normais, mas, depois da Lava-Jato, a expectativa mudou – explica.
É uma forma de desestimular o modelo de negócios "se não for jogo roubado, dá errado". Se será suficiente para sepultar a prática, é preciso esperar para ver. Mas a intenção, claramente, é essa. Há uma clara tensão em torno da expectativa de uma suposta negociação de delação premiada, citada por Moro na sentença. Cabe recurso, mas o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, com sede em Porto Alegre, tem referendado todas as decisões de Moro. O juiz avisa que a condenação em primeira instância não elimina a possibilidade de delação. Seria aquela que já foi chamada de "o fim da República".
E fontes que preferem o anonimato têm leitura diferente do senso comum sobre a resistência de Marcelo Odebrecht em propor a delação. Baseada em frases do próprio empresário – de que "dedurar" não estava entre seus "valores morais" –, surgiu a noção de que não cederia por lealdade.
A motivação real seria outra: o custo. Conformado com a possibilidade de passar longo tempo na prisão, Marcelo teria como foco a salvação da empresa.
Um eventual acordo de leniência, que se seguiria à delação, precisaria incluir todos os negócios fechados de forma irregular. Isso abalaria contratos internacionais, que hoje dão sustentação à empreiteira, na lista negra da Petrobras e com a imagem arranhada no Brasil. É uma tese, mas repetida em círculos diferentes, por pessoas de estratos diferentes. A pressão é forte: na visão de quem acompanha de perto o caso, a condenação a 19 anos foi só a primeira de Marcelo.