Da promessa da redução na conta da luz ao heterodoxo reforço de capital dos bancos públicos para oferecer mais crédito, passando pelo compromisso com a retomada do crescimento em um ano que começa com a crônica de uma recessão aprofundada. Tudo ecoa, inevitavelmente, a nova matriz econômica de má memória para o Brasil.
É certo que foram acrescidas promessas de reforma, tributária e previdenciária, mas no bolão das probabilidades, ambas empatam com a aprovação da CPMF. O conteúdo do discurso da presidente Dilma Rousseff ao Congresso não foi alentador. Mais eloquente foi o gesto de Dilma de ir ao encontro de uma plateia difícil.
A fala de Dilma no Congresso coincidiu com um dia de forte queda na bolsa (4,87%), mas nem os analistas mais azedos em relação ao Planalto fizeram conexão entre o discurso presidencial – até porque não houve novidade significativa – e o pior desempenho desde outubro do ano passado. Altas e baixas abruptas – que assinalam intensa volatilidade – são sintoma de períodos de crise.
A essa altura do ano, passado todo janeiro sob temores com origem na China e no petróleo, está estabelecido que, se não havia uma crise global contagiando mercados ao redor do planeta, agora há. Personagens ilustres da “big short” (aposta contra o mercado de subprime entre 2006 e 2008) agora estão vendidos em yuan.
Assim como dois erros não fazem um acerto no Brasil, uma aposta bem-sucedida não leva inevitavelmente a outra nos derivativos transnacionais. Mas os governos têm uma diferença em relação aos fundos que giram fortunas de trás para frente: são vigiados e cobrados a cada centímetro. E se percebem que é necessário, ao menos se esforçam para parecer que estão dando satisfações à sociedade.
“Devemos lembrar que uma crise é sempre um momento muito doloroso para ser desperdiçado. (...) surgem oportunidades para se construir soluções criativas e duradouras para os desafios difíceis” foi uma das frases de Dilma. Segue o princípio de qualquer cura: admitir o problema é o primeiro passo. Há mais de 11 pela frente.