Eles avisaram que iriam até o final do mundo para reaver todos os seus investimentos e quase chegaram lá. O mundo que termina na Argentina – mais precisamente em Ushuaia(foto abaixo) – mudou nesta segunda-feira, com a aprovação do acordo entre os últimos renitentes 'fondos buitres'. Para os abutres, valeu a pena comprar a briga: em vez de receber 25% do capital investido, como ocorreu na renegociação de 2005, comandada pelo então presidente Néstor Kirchner, vão receber 75% do principal, mais juros e correção.
Conforme acordo celebrado ontem no elegante escritório do advogado Daniel Pollack, na Park Avenue, Nova York, o resultado da briga de quase 15 anos, desde a decretação da moratória, em dezembro de 2001, foi algo assim como Abutres 3 x 1 Argentina.
O país que enfrenta severa perda de reservas internacionais terá de pagar US$ 4,653 bilhões, à vista e em dólares, até 14 de abril, salvo novo acordo que amplie do prazo. Ou seja, não é o fim da história oficial, nem da semioficial, mas abre a possibilidade de encerrar uma longa novela com trilha de tango e letras tão rebuscadas quanto o fileteado, típico do país vizinho. Bom para todos? Façam-se as contas. Os "abutres" compraram esses títulos por preços entre 15% e 30% do valor.
O calote da dívida externa da Argentina foi, na época, o maior da História, de US$ 102 bilhões. E acabou respingando em seus parceiros comerciais do Mercosul, como o Brasil. Contribuiu, no fatídico 2002 da primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, a pressionar a bolsa – para baixo – e o câmbio – para cima.
O Elliot Management, principal credor e mais duro negociador, finalmente concordou com os termos. A empresa, que administra o fundo NML Capital, forma com Aurelius Capital, Davidson Kempner e Bracebridge Capital o time dos abutres que voaram até o fim do mundo para pousar na mesa de Pollack.
Se o fim do litígio tem potencial benéfico, tanto para a Argentina quanto para seus sócios, ainda há dúvidas de onde sairão os recursos. A Argentina pretende emitir títulos no mercado global, que anda arisco. E, sobretudo, se de fato foi eliminado o risco sempre temido pelos argentinos, de que credores que aceitaram os termos da renegociação de Kirchner entrem na Justiça exigindo as mesmas condições. O próprio Pollack advertiu que o acordo é um "passo gigante", mas ainda não é o final. Caso se cumpram acordos e prazos, pode assinalar a volta da Argentina ao mundo. Não o geográfico, nem o cotidiano, mas o das grandes finanças globais.