Mais exposta ao mercado internacional do que a média brasileira, a indústria gaúcha viu o custo para empregar formalmente uma pessoa subir, em dólares, 47,1% nos últimos 10 anos, percentual 5,9 pontos acima do resultado verificado no país. O resultado, trocando em miúdos, reflete a tão propalada perda de competitividade das fábricas, uma vez que a concorrência pelos mercados é global e expressa em moeda americana.
O cálculo, elaborado pela Unidade de Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), mostra, em síntese, que os salários pagos, também em dólar, subiram muito mais do que a produtividade de 2006 a 2015.
Para a Fiergs, entre os fatores associados ao aumento do custo com salários acima da média brasileira, está o piso regional, motivo de discórdia entre entidades patroniais e centrais sindicais que, nos últimos anos, teve reajustes superiores aos do mínimo nacional - embora este ano o percentual sugerido pelo Piratini (9,6%) seja inferior ao definido pelo governo federal (11,6%).
Outra razão seria a menor taxa de desemprego na Grande Porto Alegre na comparação com outras regiões metropolitanas, elevando a disputa por mão de obra. Ao mesmo tempo, a produtividade do trabalho no Estado cresceu abaixo do país na última década.
O ponto nevrálgico, lembra a Fiergs, não é o aumento do salário, mas sim o descompasso entre o custo do trabalho e a produtividade. Como a crise um dia vai acabar, um velho problema está à frente. A deficiência da educação no Brasil e a recente diminuição no número de pessoas no ensino técnico, fruto tanto da recessão quanto do desequilíbrio financeiro do governo federal, vão se refletir em mais problema de produtividade do trabalho e competitividade das empresas.
Não bastasse isso, observa a Fiergs, a competitividade é minada pelos custos trabalhistas, tanto na hora de contratar quanto de demitir. A complexidade tributária exige um grande aparato para dar conta do cipoal de impostos, taxas e alíquotas, drenando recursos que poderiam ser aplicados em produção. Insegurança jurídica, burocracia e infraestrutura ineficiente também se somam no cardápio de causas para a perda da capacidade de competir com concorrentes de todo o mundo.