A petroleira que já foi sinônimo de promessas de futuro está em meio a uma tempestade perfeita particular. As ações preferenciais (sem direito a voto) da Petrobras despencaram 9,19% nesta terça-feita na bolsa por conta da combinação de problemas internos e externos, como avalia um grande defensor da empresa, o ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) Haroldo Lima.
No comando da agência entre 2005 e 2011, Lima reconhece o “gigantesco esquema de corrupção dentro e fora” da empresa, seu gigantesco endividamento (em outubro de 2015, R$ 506 bilhões) e o desafio que representa a queda na cotação do petróleo. À dúvida da coluna e de boa parte do mercado – se há um futuro para a Petrobras –, Lima reage com a avaliação de que o real valor da estatal está em suas reservas de 40 bilhões de barris, não no cálculo baseado no valor e na quantidade de ações, que só ontem teve perda de quase 10%:
– Isso é capital fictício.
Na avaliação de Lima, os problemas da Petrobras não estão relacionados a tecnologia ou a capacidade de produção, são financeiros.
– É por isso que a atual direção não é especialista em petróleo, mas em finanças – pondera.
Os anos de acompanhamento do setor de petróleo dão elementos a Lima para projetar que a cotação do barril atinja, sim, os US$ 25. Mas esse valor, na sua avaliação, é o piso. Caso se aprofunde, a queda embutiria sua própria reviravolta, pondera. Esse nível de preço começa a inviabilizar economicamente várias formas de geração de energia, como a nuclear e a hidrelétrica, e forçaria o mercado a comprar óleo.
Mas nem essa perspectiva benigna representa alívio imediato para a Petrobras, admite Lima. A recuperação das cotações, quando vier, será lenta. Se há um futuro melhor, portanto, está em um horizonte distante, ainda esfumado em meio à combinação de nuvens e raios que cerca a maior empresa do Brasil.