Se a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) já mobilizava a arquibancada econômica até esta terça-feira, a virada de jogo aos 47 minutos do segundo tempo, ou seja, no dia em que começa a avaliação do cenário, eletrizou as torcidas. Ao divulgar nota sobre a revisão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o tamanho da queda do PIB do Brasil neste ano, de 1% para 3,5%, o presidente do BC, Alexandre Tombini, adotou “medidas sem precedentes para época sem precedente” (George W. Bush no anúncio de medidas anticrise, em 2008). Em vez do silêncio, escolheu dar sinais. Em vez de controlar a inflação, prefere não aprofundar a recessão.
Como não é comum comentar revisões de projeções, muito menos na véspera da decisão que promete definir o ano econômico, a iniciativa de Tombini provocou arrepios.
A reação foi tão grande que obrigou o BC a se explicar, garantindo que a manifestação de seu presidente não viola “regras escritas”. É fato.
No Brasil, convencionou-se que o BC não deve dar sinais das decisões. Não é o que ocorre nos Estados Unidos, onde integrantes do Federal Reserve (Fed) deram tantos sinais de que finalmente mexeriam na taxa, depois de sete anos de inação, que quando a decisão foi comunicada, era mais do que esperada. Claro, a política monetária dos EUA impacta a economia global, e era preciso evitar surpresas.
O problema do BC brasileiro não é dar sinais, é mudar de discurso. Até segunda-feira, quando o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, deu uma peculiar entrevista dizendo que o foco atual do governo é o crescimento, predominava a visão de que a prioridade era o controle da inflação. Logo, o juro seria elevado. Para consumidores e empresários, a virada pode ser boa notícia.
Mas para investidores que fazem apostas milionárias no mercado baseados nas projeções do mercado e das instituições do governo, a virada de última hora sinalizada por Barbosa e praticamente antecipada por Tombini tem efeito prático – gente perde dinheiro – e psicológico – aumenta o já elevado teor de incertezas na economia.