De todas as manifestações oficiais ou especulativas sobre a substituição de Joaquim Levy, a mais honesta foi a do ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner: nesta sexta-feira, afirmou que quem banca a política econômica é a presidente Dilma Rousseff. Em café da manhã com jornalistas que terminou há pouco, Levy confirmou que está negociando sua saída com a presidente Dilma Rousseff.
– Há um equívoco dos que fazem a leitura sobre os caminhos do governo da presidenta Dilma. Quem banca a política econômica não é o ministro da Fazenda. Quem banca a política econômica é a presidenta da República e ela convoca o ministro para cumprir. Evidentemente que discute com ele – disse Jaques Wagner.
Ou seja, quem quer que seja, não será bem visto por boa parte do empresariado e pela quase totalidade do mercado. Não por acaso, a bolsa cai mais de 2% nesta manhã de sexta-feira. Depois da constatação dos erros cometidos ao longo do primeiro mandato, quando Dilma comandava a política econômica, havia a expectativa de que a indicação de Levy para o posto representaria um afastamento da presidente da economia e do que, no governo, foi conhecido como "microgerenciamento".
Claramente, não deu certo. Desde a indicação de Levy, foi levantada a hipótese de que não teria autonomia na Fazenda. Se ele recebeu missão corporativa ou se teve espírito público, o fato é que tentou e foi, na medida de sua frustração, elegante. Só saiu batendo a porta depois da enésima derrota e de ter combinado a saída com Dilma. Tanto que a dúvida, entre economistas que conheciam – e até entre os que não conheciam Levy – era por que ele insistia em ficar, diante de tantas evidências de que não conseguia fazer prevalecer seu ponto de vista.
Nesta semana, um economista gaúcho lamentava o fato de Dilma ter se formado em Economia na UFRGS no auge do domínio das teses desenvolvimentistas na universidade e nunca ter "se atualizado". Outra passagem de Dilma pela academia foi na também desenvolvimentista Unicamp. O problema, nesse caso, não é a linha teórica adotada, mas a interpretação do momento e de qual a melhor estratégia para cada situação. Até críticos reconhecem que as medidas anticíclicas no auge da crise foram corretas. O problema foi esticá-las até a reeleição. Sem completar o ajuste, o Planalto um discurso mais focado no crescimento. Não será possível crescer de forma sustentada sem tirar todos os esqueletos do armário.