Teria sido um sonho de sete anos, seis meses e 13 dias? Até agora, foi o período que durou a presença do Brasil na primeira divisão da classificação de risco. E tanto a entrada quanto a saída ocorreram pelas mãos da mesma agência, a Fitch. Essa primeira divisão reúne os países sobre os quais não há qualquer restrição de crédito ou investimento.
De maio de 2008, quando a Fitch concedeu a segunda nota exigida nos estatutos dos fundos institucionais, a dezembro de 2015, quando essa condição foi perdida, o Brasil foi banhado por dólares no mercado de capitais e em renda fixa. Agora, muitos serão obrigados a se retirar. Esperava-se que a sentença de expulsão viesse da Moodys, mas antecipou-se a até então mais generosa das agências, para a qual o Brasil estava dois degraus acima da fronteira entre o primeiro e o segundo grupos até 15 de outubro.
O país só se separa dos títulos chamados "junk" (lixo) pela nota da Moodys, que segundo a própria agência está com os dias contados. Mas será só simbólico. A perda histórica ocorreu ontem, com a decisão que deflagra o chamado "sell off" - venda forçada de títulos por parte dos investidores institucionais. O objetivo das regras que exigem a nota dupla em grau de investimento é exatamente proteger os cotistas ou investidores do risco maior do grau especulativo.
Não há um valor exato previsto para deixar o Brasil nos próximos dias. Não existe um indicador preciso sobre o valor dos investimentos em títulos privados e em renda fixa que será afetado pela perda da dupla nota em grau de investimento. Estimativas de quem trabalha com câmbio e fluxo de capitais situam o tamanho da saída entre US$ 20 bilhões e US$ 50 bilhões. Mas também não se sabe com exatidão quanto já saiu e quanto pode sair mesmo não sendo obrigado a fazê-lo.
O fato é que o dólar vai subir, como já ocorreu ontem. Além do rebaixamento, o início do processo de elevação da taxa de juro nos Estados Unidos contribui para pressionar o dólar - menos, mas também pesa. É bom lembrar que investimentos de estrangeiros em private equity (participação em empresas) ou em projetos de capital fixo no Brasil não são afetados pela classificação de risco. Por outro lado, empresas brasileiras que buscarem financiamento no Exterior terão de pagar juros mais elevados. Será o custo de não ser um país mais tão confiável. Desta vez, o governo parecia preparado para a perda da nota. Pouco mais de meia hora depois do anúncio, o Banco Central se manifestou falando em "robustos colchões de liquidez para atenuar ajustes nos preços de ativos". Vamos precisar.