Entre economistas e empresários que comentam publicamente os ecos do impeachment, percebe-se tom semelhante: o que menos importa é o desfecho – a saída ou permanência da presidente Dilma Rousseff. O mais relevante, para a economia, é a duração do processo. Assim como se constatava meses antes de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acolher o pedido de afastamento, o que agrava a crise econômica é a incerteza e a falta de previsibilidade.
Com a instabilidade política que emana de Brasília e coloca amarras na execução do ajuste fiscal, empresas e consumidores não conseguem planejar investimentos e prever orçamento para os próximos anos. Essa receita negativa existia antes deste mês, mas ganhou um novo ingrediente – bastante amargo – com o impeachment.
A consultoria GO Associados apresentou, nesta segunda-feira, dois cenários, montados com ajuda de um economista, um jurista e uma socióloga.
O primeiro considera um desfecho rápido para o rito no Congresso, com encerramento entre final de janeiro e início de fevereiro. A conclusão ainda no primeiro trimestre permitiria um ''processo recessivo menos intenso'' em 2016, com projeção de queda de 2,8% do PIB, inflação em 7% (ainda acima do teto da meta) e dólar cotado a R$ 4,30 no final do ano.
A rapidez embute previsão de recuperação da economia tanto com manutenção do atual governo quanto em um governo de transição. Nas projeções da consultoria, fechar o caso no primeiro trimestre garantiria até um 2017 sem mais recessão. Caso se estenda até julho, a perspectiva é mais um ano no negativo.
No pior dos casos, os trâmites legais esticariam o julgamento até julho. Nesse cenário, a GO prevê recessão de 3%, IPCA na casa dos 7,5% e o câmbio superando a barreira de R$ 4,60 no final do ano.