No dia da ressaca na bolsa, que devolveu quase toda a euforia irracional do dia anterior, o protagonista não foi o mercado, mas o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Veio de quem tanto foi questionado sobre o grau de lealdade e sintonia com a presidente da República, na época de sua nomeação, uma das provas mais robustas de compromisso com a governabilidade – em contraste com o suposto alinhamento de outros colegas de Esplanada. Se Levy não conseguiu fazer tudo o que se propôs, segue tentado, e em condições muito adversas.
No mercado financeiro, o dia foi de realizar – tanto no sentido de perceber que não havia motivo para tanta valorização dos papéis quanto no de embolsar lucros produzidos no dia anterior.
A “desculpa” para a reversão no desempenho foi a constatação de que o baixo desemprego nos Estados Unidos, de 5% em novembro, reforça a expectativa de que o Federal Reserve comece a elevação na taxa de juro na reunião do dia 16. Foi uma correção do excesso de entusiasmo do dia anterior, como previam analistas racionais.
Mesmo com lampejos de otimismo manteguiano, Levy mostrou onde deve estar a inquietação com o futuro: com a continuidade das medidas do “tal de ajuste” – expressão dele – mesmo com o Congresso hipnotizado pela abertura do processo que pode levar ao impedimento de Dilma Rousseff. A probabilidade desse comportamento é baixa, dizem economistas experientes. Até a votação do pedido de impeachment, será difícil votar qualquer outra coisa. Esse é um dos motivos apontados para a piora da percepção sobre a economia com a abertura do processo, mesmo por analistas que se alinham entre os críticos do governo federal.
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Tentando demonstrar mais calma do que seria esperada para as circunstâncias, Levy carregou no otimismo ao dizer que o pedido de impeachment “não atrapalha em nada”. Mas aderiu ao discurso do Planalto ao afirmar que “quando se enfrenta as coisas, em geral, é melhor se você consegue demonstrar a que você veio, qual o seu compromisso e objetivos”. Vai ser preciso esperar passar o tsunami do processo para enfrentar, de uma vez, o “tal do ajuste”.