Serão assim os próximos dias no mercado financeiro: enquanto a economia real registra números cada vez mais desalentadores, a bolsa reagiu com euforia ao avanço do processo de impeachment. A volatilidade, que já era o signo da crise, acentua-se com as apostas sobre o desfecho do processo. Ou seja, o mercado “temerizou”.
Quem crê em numerologia pode fazer previsões cabalísticas com os números desta quarta-feira na bolsa: o volume negociado foi de R$ 7,777 bilhões e as duas ações que mais subiram foram Petrobras, 10,77% e Banco do Brasil, 10,07%.
E o que isso significa? Sobre o presságio, é preciso consultar um especialista. Sobre o tamanho do entusiasmo, é a interpretação que vem desde a campanha eleitoral: sem Dilma, os investidores esperam gestão mais autônoma das estatais. Esse viés foi reforçado diante de especulações de que a equipe econômica de Michel Temer seria comandada pelo confiável – para o mercado – Henrique Meirelles. Até o dólar recuou.
Na economia real, dois sinais de inquietação. A inflação acumulada em 12 meses passou para o terreno dos dois dígitos: 10,48%. A última vez em que isso ocorreu no Brasil foi em 2003, com consequência do pânico criado no mercado pela eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. O remédio disponível contra a inflação – não quer dizer que seja o melhor – é aumento de juro. Aprofunda-se a percepção de que o Banco Central seja obrigado a fazer novas elevações na taxa básica para tentar controlar o aumento de preços.
E depois que o mercado fechou, a agência de classificação de risco Moody's avisou: a segunda nota do Brasil em grau de investimento subiu no telhado. O país foi colocado em perspectiva negativa, que vaticina rebaixamento à vista. Nos próximos meses, não se deve esperar boas notícias da macroeconomia, que se dedica a analisar PIB, inflação, câmbio e juro, entre outras variáveis comuns a todos. O alento para passar pela crise que se aprofunda está no micro: os milhares de empreendedores que seguem tocando a vida. Apesar de tudo.