Se o mesmo boato que há poucos meses murchava a bolsa e inflava o dólar agora tem efeito inverso, talvez a passagem de Joaquim Levy pelo Ministério da Fazenda esteja mesmo perto do fim. Nesta quarta-feira, o principal índice da bolsa subiu e o real recuperou alguma musculatura frente ao dólar, com o reforço da percepção de troca do titular da pasta. E, mais importante ainda, que se houver mudança, nada muda.
Como assim? Reunidos em um evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Meirelles e Levy deram sinais de que não há atalho para a correção da política econômica. Bastaram três palavras de Meirelles para desmontar a expectativa de quem temia que a substituição abriria caminho para um recuo na correção da política econômica: ''ajuste fiscal completo''.
Levy não perdeu a deixa e foi avisando que ele e o potencial substituto “têm grandes afinidades de pensamento”. Ou seja, o problema não é o nome do ministro, é o ambiente em que ele tenta operar.
Um dos temores do mercado era de que Meirelles aceitasse medidas de liberação de crédito que Levy se recusa a aplicar. Ao mencionar o ''ajuste fiscal completo'', o ex-presidente do Banco Central no governo Lula sinaliza de que não admitiria recuos. Mas também fez questão de demonstrar que não fechou a porta. Ao ser diretamente perguntado sobre seu futuro na Esplanada dos Ministérios, Meirelles saiu-se com um primor de diplomacia palaciana: ''Não recebi convite direto'' (nem precisa ênfase na palavra ''direto'' para ser mais claro).
O mercado gosta de Meirelles, mas Dilma não gosta, e há analistas que apontam esse obstáculo no caminho da mudança na Fazenda. Até onde se sabe, a presidente também não morre de amores pelo atual ministro, nem agora nem antes da indicação. A maior dúvida é que tipo de perspectivas Meirelles poderá entregar que Levy não pôde. Se não será pelo alívio no ajuste, terá de ser pela entrega efetiva das medidas.