Quando começam a trabalhar na profissão, jornalistas passam a sentir na pele as consequências de algo óbvio: notícias não têm hora para acontecer. Na rotina de uma redação, essa lógica produz efeitos curiosos. Há semanas em que nada de mais relevante acontece. Em outras, parece que a metralhadora de manchetes se pôs a funcionar, e os repórteres começam a correr para todos os lados. Foi o caso dos últimos dias.
Na quarta-feira, Juan Guaidó se autoproclamou presidente, inaugurando mais um capítulo complexo na história da Venezuela. No dia seguinte, apesar do temor de um possível fechamento das fronteiras venezuelanas, ou do espaço aéreo, resolvemos mandar Rodrigo Lopes, repórter especial, experiente em coberturas internacionais, para Caracas.
Horas depois da chegada, ele me mandava um relato da situação:
– Trabalhar em crises na América Latina é um desafio para nós, repórteres, porque envolvem questões logísticas difíceis de romper. Os ânimos estão exaltados, forças policiais e manifestantes se agridem e a imprensa no meio de tudo isso. No caso da Venezuela, o governo Maduro é conhecido por censurar o trabalho dos jornalistas. A sensação é de estar trabalhando em um país em estado de exceção – há filas de duas horas pra comprar um chip de celular, nas farmácias não tem nem remédio para dor de cabeça e, até agora, no final da sexta-feira, ainda não consegui lugar para trocar dinheiro. À noite, há toque de recolher informal. Somos orientados a não sair nas ruas.
No caso do rompimento da barragem em Brumadinho, na região metropolitana de Minas Gerais, na sexta-feira, a decisão de enviar repórter e fotógrafo foi imediata. Assim que as imagens da lama tomando a região vieram à tona, a editora Dione Kuhn chamou Juliana Bublitz, também repórter especial, igualmente experiente em coberturas complexas:
– Ju, precisamos que tu vás para Minas. Arruma a mala! Vamos mandar o fotógrafo André Ávila contigo. Já estamos comprando as passagens.
– Só tive tempo de dizer “sim”, desligar o computador, entregar meu chimarrão para uma colega, pegar os equipamentos para transmissão ao vivo na Rádio Gaúcha, além de laptop, celulares e carregadores, e correr para casa – conta Juliana.
– É desafiador, é corrido, é tenso, mas é nessas horas que tenho muito orgulho de ser jornalista.
Boa viagem, Rodrigo, Juliana, André, queridos e competentes profissionais. Os leitores de ZH, os ouvintes da Gaúcha e os usuários de GaúchaZH esperam pelos relatos de vocês, direto do front.