Apenas quando adultos, os três filhos fizeram as pazes com seus pais. Um perdão demorado. Afinal, foram anos sofrendo bullying por serem expostos a uma experiência incomum. Eles aguentaram, estoicamente, estar entre os pouquíssimos colegas da escola cujos pais nunca se separaram.
Enquanto seus amigos e colegas viviam a experiência de novos irmãos – consanguíneos ou não –, com suas múltiplas casas, com madrastas e padrastos, seus vários quartos alternativos, os três carregavam o tedioso fardo da casa e quarto únicos. Os colegas de pais separados informavam como era a competição pelo melhor presente a cada aniversário. Na prática, uma continuação de quem montava o melhor quarto para eles.
Nesta família temos um exemplo da fraqueza que o amor traz.
As datas festivas eram outro motivo de inveja. Fora de sua família, todas eram comemoradas em dobro. Não necessariamente nesta sequência, primeiro com a família da mãe e depois com a família do pai. Logo, presentes em dobro, e também estes sob concorrência entre as famílias.
Este casal tinha consciência do que acontecia, porém, adiava a separação por conveniência e preguiça. Claro que havia obstáculos, problemas econômicos, de logística, divisão de patrimônio, mas eram os mesmos de todas as famílias ao redor. Os outros conseguiam dar esse passo, eles não.
Nem ao menos tentavam separar-se. Os filhos não lembram de nenhuma briga, nenhuma gritaria. Por sorte, como companheiros de infortúnio, os irmãos se uniram para suportar esta condição esquisita de não saber o que é ter uma madrasta ou um padrasto.
Todos os anos, os irmãos perguntavam quando seria. Como resposta, desculpas por causa de pautas prementes e momentos imperiosos. Ficava para o ano que vem. Promessa que se revelou vazia, pois ano vai e ano vem e nunca aconteceu. O tempo passou e os filhos cresceram na restrita experiência de apenas uma família nuclear.
Não faltaram conselhos dos amigos já separados para ambos. Conviviam com pessoas no terceiro ou quarto casamento. Sabiam do benefício para todos, mas estavam acostumados e amorosamente ligados um ao outro. A intimidade, as experiências comuns, os anos de convivência inibiam propostas mais audazes de vida.
Nesta família temos um exemplo da fraqueza que o amor traz. Era um casal que se amava, e não sabiam viver um sem o outro. E existem outros por aí… O problema é como conciliar esses laços amorosos antiquados com os novos tempos?