A Síndrome de Stendhal, rara mas intrigante, acomete turistas quando eles vivem uma experiência estética forte e desorganizam-se a ponto de perder as referências e os sentidos. É uma espécie de epifania negativa, os sintomas lembram um ataque de pânico. O sujeito entra em angústia porque não tem software para decodificar o que seus sentidos registraram.
É um choque cultural por dar-se conta de que há coisas além da nossa compreensão e imaginação, por perceber que num passado em que inexistíamos, o mundo já era magnífico e complexo. São muitas as oportunidades nas artes e na ciência para sentir-se insignificante frente à vastidão da história, dos feitos que nos antecederam, do futuro que seguirá sem nós, de quão pouco entendemos como funciona quase tudo.
Existe um mito que estudar demais enlouquece. Talvez uma intuição que nos fragilizaríamos ao entrar em contato com tantas perguntas sem respostas que a humanidade tem. Ficar íntimo de qualquer área da ciência, ou da filosofia, pode nos deixar perto da Síndrome de Stendhal. Estudar é olhar para dentro do abismo do não saber; quanto mais estudamos, mais nos damos conta da infinidade do que falta saber. Aqui entra a Teoria da Conspiração, um atalho que economiza esse sofrimento e esforço.
A ela recorrem os que acreditam na terra plana, na farsa do pouso na lua, em uma elite secreta que dominaria o mundo, que vacina faria mal, que o holocausto não aconteceu ou que o Covid e a AIDS foram criados em laboratório. Tudo baseado em conjecturas vagas. Esta “sabedoria" é sempre contracorrente pois “os poderosos não querem que saibamos”.
Afinal, qual é a função social desses factoides? Pois se não houvesse, não teríamos tantos adeptos disso que também é chamado de pensamento independente. Aliás, excelente denominação, pois é independente da lógica, da ciência, do razoável e do bom senso.
Quem acredita nelas está na postura de: “a mim ninguém engana, eu sei dos mistérios e das forças ocultam que escondem a verdade”. Portanto, estas teorias são úteis para sentir-se sábio, para pousar de esperto para os outros e para si mesmo. Essas convicções corrigem a autoestima de quem não tem um conhecimento formal.
Organizar um sistema de crença coerente, fechado em si mesmo e alheio às evidências, é um recurso comum na paranoia. Apenas os alienados são pensadores solitários, enquanto os teóricos da conspiração deliram em grupo.
O proselitismo, a pregação como pastores, faz parte do circo dos desatinos compartilhados. Lembre, os sábios não vociferam, não profetizam, seu instrumento é a dúvida. A teoria da conspiração é uma das formas de lidar com o desconhecimento e a que mais passa recibo de sua presença. Um esforço que tenta contornar a dimensão cósmica da insignificância e da ignorância humanas.