Mas o que custa só dar uma espiadinha na prova, né? Bem, uma dorzinha no joelho direito, uma dificuldade ao pisar o pé esquerdo e movimentos estilo Robocop por uns três dias. Na coluna do mês passado, contei aqui que não correria mais a 22ª Maratona Internacional de São Paulo, prova para a qual estava inscrita, desde o fim do ano passado, para fazer os 42 quilômetros em 24 de abril. Um conjunto de pressões do dia a dia tinha pesado nos meus treinos e eu havia decidido que precisava voltar a correr como válvula de escape, não como uma cobrança a mais – era o que sentia naquele momento, não quer dizer que treinar gere sempre esse tipo de sentimento.
Só que a passagem estava comprada, a inscrição, paga, e eu, que só tinha corrido 42 quilômetros em Porto Alegre, quis ver como era uma das provas mais conhecidas do circuito de maratonas do país. Não chovia há quase um mês na capital paulista, e a previsão de calor era intensa. O que se confirmou aos 33°C às 10h30min daquele domingo.
A largada, marcada para as 7h30min diante do obelisco do Parque Ibirapuera, contava com um bocado de gente: 18 mil inscritos. Consegui passar o pórtico quando faltavam menos de 10 minutos para as 8h, tamanha a multidão de corredores. Impossível não comparar com a prova de Porto Alegre, mais antiga, mais plana e de temperatura mais amena, mas que fica para trás em organização e animação da cidade.
Havia 21 pontos de distribuição de água (ainda que quente, na maioria das vezes), com sanitários, além de dois pontos de água de coco, um de batata e outro de carboidrato em gel. Em um local havia isotônico, mas estava praticamente fervendo. Não tinha o que se pudesse fazer diante do calor do domingo ensolarado. Apesar do clima seco, boa parte do percurso, que passou pela cidade universitária da USP, contava com sombras de árvores.
Eis que, no meio da animação de tanta gente, tomando os cuidados com hidratação e com a cabeça tranquila, alcancei os 30 quilômetros. Quando percebi que já estava abusando de um corpo não devidamente treinado para o momento, comecei a caminhar, em um trecho onde muitos já estão fazendo o mesmo. Em um horário em que os quenianos, sempre eles, já alcançaram a pórtico de chegada há mais de hora. A prova de São Paulo não é internacional apenas no nome. Muitos atletas africanos vêm para disputá-la.
Se na elite masculina o brasileiro Giovani dos Santos (segundo lugar, com tempo de prova de 2h17min23seg) mordeu o calcanhar do queniano Paul Kimutai (2h17min14seg), no pódio feminino só deu africanas nos três primeiros lugares. A campeã foi Alice Kibor, do Quênia, em 2h35min56seg. As brasileiras Marizete Moreira dos Santos (2h51min55seg) e Simone Ponte Ferraz (2h57min54seg) chegaram em quarto e quinto lugares.
Não dá para dizer que foi aquele gostinho de se deixar “morrer” para lembrar que se está vivo, possível quando completamos o percurso de 42 quilômetros do início ao fim – só quem já fez sabe como é viciante. Mas valeu a pena conhecer a lógica da maior prova da modalidade no país.