Negligenciados pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, os terroristas do Hamas tiveram muito tempo para planejar uma barbárie em três atos. No primeiro, houve a selvageria em estado bruto, com a invasão de território israelense, massacres, estupros e tomada de reféns, inclusive crianças. A carnificina, obviamente, não visava a conquistar Israel. O objetivo era desencadear uma reação explosiva dos israelenses e atraí-los para o pântano humanitário de Gaza.
Bem que Joe Biden, calejado pelo 11 de Setembro, tentou avisar Netanyahu para não responder com as entranhas. Depois de milhares de vidas e trilhões de dólares enterrados no Afeganistão, os EUA observaram inertes a volta dos talibãs ao poder. Mas, diante da barbárie, alguma reação, conforme o legítimo direito de defesa, era inevitável. Aí se inicia o segundo ato do plano do Hamas.
Gaza é uma área de enorme densidade demográfica, onde qualquer ação militar custaria muitas vidas civis. O plano do Hamas foi além do uso dos 2 milhões de habitantes e dos reféns israelenses como escudos humanos.
Terroristas e suas famílias se protegem em uma sofisticada rede de túneis que passam sob escolas, mesquitas, hospitais e até agências da ONU. Ou seja, o palco perfeito para uma catástrofe humanitária e de imagem para qualquer invasor.
Como se viu, Netanyahu e seu governo extremista acabaram agindo com a precisão de um martelo na mesa de cirurgia. O segundo ato do plano do Hamas começava a dar certo. O Israel que assombrou o mundo com a bravura da Guerra dos Seis Dias e a ousadia do resgate dos reféns de Entebbe passou a ruir sob olhar internacional junto com um bombardeio que produz cenas dantescas.
Em incompreensível reforço ao estratagema do Hamas, Netanyahu dificulta a entrada de alimentos e medicamentos em Gaza, legando fome e doenças. E o Mal, bem escondido e explorando o desgaste de Israel, mostra muito mais vigor do que o imaginado.
Milhares de terroristas morreram nos ataques, mas isso estava na conta do Hamas. Pela concepção diabólica, faltava o terceiro ato: a eclosão do antissemitismo e o levante de países árabes em uma coalizão para atacar Israel. O antissemitismo saiu das trevas travestido de apoio a Gaza, algo com que 700 mil crianças ameaçadas de morte pela fome no Sudão, onde não há judeus ou a presença dos EUA, não contam desde a eclosão da guerra civil, em abril passado.
Felizmente, o Mal não conseguiu pôr em prática o último ato – a união árabe para tentar empurrar Israel para o mar. Mas, vivendo na segurança e no conforto no Exterior, os líderes do Hamas elocubram os próximos passos. A armadilha em que Netanyahu caiu exige agora que os invasores abriguem, alimentem e cuidem dos invadidos. O Mal ganhará ainda muitas cenas para manter vivo seu plano.