“Meu povo querido, sou candidato a presidente e já me dei conta de que o negócio é distribuir dinheiro. Não interessa que há uns anos, pra baixar os juros e segurar a inflação, o Congresso tenha aprovado um certo teto de gastos. Dizem que era pra impedir tentações populistas, mas não sei o que é isso. Aliás, nem entendo bem esse teto. Mas entendo de eleição.
Olhem aquele que já foi presidente duas vezes. Na primeira, parece até que cuidou das tais contas públicas. Colocou um craque no Banco Central e aguentou as pontas da gastança no seu partido. O Brasil até parou de falar em dívida externa e passou a ter reservas em dólar. Pra que, não sei. Se fosse comigo, torrava tudo. Lixe-se quem vem pela frente. Mas voltando praquele presidente. Querem fazer crer que, com as contas em dia, foi possível dar confiança a empresários e investidores e tirar 30 milhões da miséria – e não só num ano eleitoral.
Pode ser, mas dá muito trabalho convencer todo mundo de que o respeito ao orçamento é a base da prosperidade. Melhor prometer aquilo que todo mundo entende: dinheiro na mão, aqui e agora, e seja o que Deus quiser ali na frente. Aquele presidente se meteu depois a andar de jatinho de braços dados com uma turma da pesada. Abriu o cofrão pra eles e, com um monte de obras, elegeu a sucessora. Azar dela que criou uma tal de contabilidade criativa (Que ideia boa, hein? Pena que eu não tive) pra maquiar as contas penduradas.
Agora vejam esse atual presidente. Esse clima de barata voa é bem do seu jeitão. Ele se elegeu sete vezes deputado, sempre com a conversa de aumentos sem fim pro funcionalismo e contra as privatizações. Tão irresponsável e corporativista como a esquerda. E aí, do nada, chegou a presidente, fazendo de conta que ia adotar uma agenda liberal e ficar longe do centrão. Mas ele é populista dos bons, de fazer inveja ao tal estelionato eleitoral daquela presidenta. Teve até uns liberais que embarcaram na lorota e no governo (a maioria já saltou fora, um tanto corada pela ingenuidade).
Bom, mas agora aquele que já foi presidente concorre de novo e diz que vai dar R$ 600 por mês. O atual diz que dá R$ 400 de qualquer jeito, mesmo torrando o que não tem. Nem pensar em cortar gastos e emendas pra pagar esse auxílio. Ok, a taxa de juros disparou, o câmbio foi lá em cima e a inflação e o desemprego estão liquidando com o presente e o futuro dos mais pobres. Mas meu negócio é prometer dar mais dinheiro ainda. Que se dane a história de ensinar a pescar. Não sou dono da peixaria, sou? Vou é dar todos os peixes que posso e não posso e passar a dívida adiante. É só subir imposto a torto e a direita e imprimir mais dinheiro. O país vira Argentina ou Venezuela, mas e daí? Quem prometeu fazer o Brasil dar certo?”