Dos golpes de vigaristas reciclados para a era digital às notícias falsas que invadiram as redes sociais, vivemos uma inédita crise de confiança. Por terra, mar e ar, a sensação é de que estamos sitiados. Nossas caixas de e-mail são violentadas por fantasiosas ofertas de serviços que pretendem nos fazer revelar o número do cartão de crédito, o candidato que parecia tão honesto está agora em alguma lista, o presidente da maior potência do planeta se contrapõe à realidade com "fatos alternativos" e até na Europa eleitores de democracias sólidas sofrem a tentação de levar ao poder populistas que vendem o paraíso terrestre das benesses do Estado ilimitado.
A mercadoria da confiança está mesmo escassa, e não é por falta de opção. Nunca tantos tiveram tanto acesso a tantos conteúdos ao mesmo tempo. Mas um dos problemas de determinar o que é relevante e confiável reside exatamente na abundância de textos, vídeos, fotos, áudios que nos soterram via mail, grupos de mensagens, redes sociais. Em grande medida, tais conteúdos querem conquistar a nossa simpatia para alguma causa e o desprezo para outras. Para isso, os grupos de ativismo social e político recorrem desde a velha e boa manifestação do pensamento livre e respeitoso a estratagemas obscuros, como fábricas de inventar notícias, para daí extrair algum benefício para sua causa.
No passado, a opinião individual se consolidava a partir de três origens: a experiência pessoal, o convencimento boca a boca e a ponderação sobre informações difundidas geralmente por veículos de comunicação. Hoje, elas seguem importantes – na avaliação de um produto, por exemplo –, mas de certa forma as três origens desembocam agora nas redes, e é por isso que esse passou a ser um território prioritário na batalha pela confiança.
O excesso de conteúdos, porém, nivela as redes por baixo e produz generalizações perigosas. Um exemplo é quanto à política. A catarse contra a corrupção pode conduzir a uma desconfiança generalizada na democracia. Desconfie dos que querem fazer crer que todos os políticos são sujos ou de que há um complô da imprensa com o Judiciário e o Ministério Público contra o povo. Se o Brasil está sendo passado a limpo, é porque as instituições estão funcionando: basta constatar que males seculares vêm sendo exorcizados em público como nenhum outro país teve ousadia de fazer. É preciso confiar em que sairemos melhores desse processo, mas devemos ficar mais atentos que nunca. Se o Brasil perder a confiança nas instituições, não haverá muito mais a perder.