Em 1938, a Guerra dos mundos, um programa de radioteatro comandado por Orson Welles, irradiou uma fantástica invasão dos EUA por marcianos, desencadeando uma onda de pânico na Costa Leste. Pois agora a roda da desinformação está girando no mesmo eixo da Guerra do Mundo: são tantas as notícias falsas que se espalham pelas redes sociais, em particular o popularíssimo Facebook, que em determinados momentos seria apropriado rebatizá-lo de Fakebook (Livro de Falsidades, em uma tradução livre).
A diferença em relação ao involuntário caos de 1938 é que a intenção das fábricas de notícias falsas é exatamente gerar confusão e torturar fatos para favorecer causas e ideologias, criar indignação e, como consequência, obter vantagens políticas ou econômicas a partir da desinformação. Voltamos no tempo, só que em escala digital, em ritmo instantâneo e concepção industrial para produzir o máximo de dano a adversários.
Para atingir seus objetivos, a tática da desinformação se vale da força dos compartilhamentos: uma notícia repartida por um parente ou amigo de confiança vem naturalmente embalada pela credibilidade de quem a distribui, reforçando a suposta veracidade de uma narrativa, mesmo que inteiramente fantasiosa.
A realidade, porém, é bem distinta. Em abril, o Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Acesso à Informação, da USP, investigou milhares de notícias que transitaram pelo Facebook. O resultado: três das cinco informações mais compartilhadas no Brasil eram simplesmente estapafúrdias, criadas apenas para enganar o freguês online – os chamados "virais falsos". O Facebook bem que pensou em contê-los ao contratar editores, mas, diante da enormidade da tarefa, desistiu e voltou a deixar seus algoritmos, e com eles o barco das sandices, correrem soltos.
É em razão do maremoto de falsidades, cuja graduação vai de distorções parciais a absurdos completos, que está havendo um renascimento do jornalismo profissional, entendido como aquele exercido de forma independente, distante do ativismo de diferentes espectros que mutila a realidade sem remorsos. O jornalismo que se organiza em redações profissionais e é regido por códigos de ética e conduta não é perfeito. Mas só o fato de reconhecer sua imperfeição e corrigir-se sistematicamente mostra que uma comunicação séria e de qualidade é a derradeira boia de salvação no oceano de embustes no qual naufraga a realidade como ela de fato é.