Fui incumbida de escrever uma coluna em lugar do David, que está de férias. Quase me assustei: sou admiradora dele, desde aqueles tempos em que, gostando do seu jeitão de escrever, implicava um pouco (preconceito, hein vovó? Dizem minhas netas com dedo apontado) com os assuntos e desenhos de mulheres peitudas e gracinhas pra mim sem graça.
Depois o David desabrochou nesse escritor, nesse colunista que consegue me emocionar, calejada que sou tantos anos de profissão, com palavras e sentimentos. Havia outro por trás daquele Primeiro, um pouco debochado e quase juvenil. Um homem maduro e bom de se gostar. Problemas que a qualquer um teriam talvez destruído, a ele deixaram mais próximo do leitor.
Faz bem ler suas crônicas. Ainda aprendo com ele, esse colega que quase nunca vejo, na sua adotiva cidade de Boston, com filho, com Marcia, com trabalho, com ruas ensolaradas ou calçadas nevadas, restaurantes acolhedores ,pessoas interessantes e sentimentos incrivelmente reais.
Não sei se eu conseguiria morar longe assim, mas se fosse pela minha saúde, e bem de minha família, talvez fosse até bem mais longe do que a sofisticada Boston - para aqueles locais remotos onde se come sopa de morcego. Comia, porque parece que também isso agora acabou, antes que muita gente ficasse doente, talvez morta, com o tal novo vírus. Que, diga-se de passagem, não se sabe ainda o quanto é destruidor, pois comentários e notícias vão desde quase inocente (o mundo inteiro dando uma de bobo assustado por nada...?) até incrivelmente mortal, gente caindo nas esquinas chinesas, multidões querendo tratamento, hospitais construídos em tempo recorde, linhas aéreas suspendendo voos tradicionais, empresas fechando as portas por algum tempo, bolsas despencando, gente de quarentena na Europa e nos Estados Unidos, por precaução, e isso não é brincadeira..... as notícias não combinando entre si nem com nosso bom senso. Mas bom senso em hora dessas também se recolhe ou entorta.
Não sei por que passei do David, a quem hoje tento substituir, para a nova peste que nos assola ou já terá se dissipado em névoa estranhamente inocente? Não creio. Talvez essa noção do "por trás" que pode ser uma surpresa boa ou um monstro do apocalipse. O que me instiga no caso do coronavírus é o que pode estar fervendo na sombra dessa agitação, desse quase pavor de um lado e de outro esses continuados avisos de não entrar em pânico. Se for tudo uma gigantesca pantomima para assustar não sei quem, será muito mais grave.
Não creio que entidades mundiais se pronunciassem se fosse apenas, como diria Trump sobre seu impeachment, "a hoax", uma farsa (e periga ser). Nem sei se será possível ocultar e disfarçar por muito tempo um mal tão grave. Mas o medo é um dos instrumentos mais usados para manter o pessoal na coleira. Eu não me sinto à vontade com toda essa história. Em vez de escrever e opinar, preferia estar lendo o David sobre esse assunto inquietante, diante do qual somos bobos ou... a próxima vítima.