Tanto assunto neste mundo vasto, vastíssimo, e vou procurar alguma coisa bem comum, bem cotidiana, porque há um assunto em que não quero falar. Vou conseguir?
Começo pela volta da praia, ou da serra (muito mais gente busca a praia no verão), para ver como nos adaptamos. Estranhamente, demoramos mais a nos acostumar de novo em casa do que no lugar escolhido para férias. Porque lá, diferente da vida comum, tudo é novidade, e nas coisas daqui esbarramos com certo tédio. A mesma sala, a mesma cama, a mesma comida, os mesmos programas de TV, e, se não formos meio ignorantes, até os mesmos livros na prateleira. E como livro anda caro, acabamos lendo na internet, o que também eu eventualmente faço.
A volta, o retorno, depois daqueles dias sonhados um ano inteiro. Meu irmão pequeno e eu, em outubro, clareando céus e paisagens quando havia estações distintas, já dizíamos senti “cheiro da praia”. Devia ser meio fantasia, meio memória da maresia, das comidas de lá, das gentes e bichos... ele andava na carretinha puxada por um cabrito, eu já montava a cavalo com meu pai muitas vezes, adorando aqueles rumores, aquele cheiro meio selvagem.
O ano inteiro sonhávamos com a praia. O ano inteiro nos preparávamos, de alma e pensamento, para aquele mês, às vezes dois – , aí a gente começava a se entediar um pouco, porque o ser humano é isso mesmo, novelo de complicações, enredo de chatices.
Vai daí que além da volta das férias, porque as aulas estão começando, temos o cansaço do calor. Muitas pessoas adoram, eu desgosto um pouco, porque calor só em praia e piscina, lugares onde geralmente hoje não estou. Detesto a preguiça que o calor me causa, maior ainda do que minha já natural preguiça desde sempre (essa guria nasceu cansada, diziam em casa). Desmarcamos uma viagem à Itália nos próximos dias, não vou dizer por que motivo, e acho que ficamos um pouco mais tristes. Meu novo livro, As Coisas Humanas, deve sair pela Record em fim de abril, mas vamos ver se se farão grandes reuniões – minha ilusão de sempre, em geral correta, gracias, leitores amados – ou se vai ser adiado também. De momento nada sabemos, além das notícias que ocupam quase todos os espaços, inclusive de esportes e economia... sobre o assunto que não abordarei.
Esta é uma época de retornos, recomeços, reencontros... ou fins.
Então, começo das aulas. Lembro com que alegre expectativa, nos tempos de escola ou universidade, esperávamos por essa hora. Que novos colegas, que professores, que matérias, que interesses, que entusiasmos ou... que tédios também? Mas haveria sempre a biblioteca quando o resto estava meio sem graça.
Esta é uma época de retornos, recomeços, reencontros... ou fins. O namorico da praia, a amizade da serra, os aromas, os ruídos, as pessoas... o retorno troca o cenário, mas os bastidores são os mesmos: nossa alma alegre ou melancólica, nossa realidade boa ou péssima, ou razoável, mas quem quer o razoável? E como nós em parte construímos nossa vida, mãos à obra.
Consegui uma coluna inteira sem falar... no coronavírus. Ou nas entrelinhas ele esteve aqui o tempo todo?