Quando menina, eu queria muito ser adulta, para poder tomar champanha, usar perfume francês, ter conversas interessantíssimas (eu achava...), viajar pelo mundo, comer iguarias diferentes – não só dormir cedo e comer franguinho com purê de batata.
E não obedecer... o que era meu maior problema, porque a cada comando eu queria saber o motivo. Alguém um dia me disse, achando graça dos meus acessos de mau comportamento (“eu quero ser grande! eu quero ser grande!”), que era pura ilusão achar que os “grandes” é que tinham vida boa. “A gente tem mais é responsabilidades”, concluiu, acho que era um dos tios. Achei melhor não perguntar também o que era “responsabilidade”. Eu cedo ia descobrir. Tive muitas mais tarde, tenho algumas até hoje, e foram das melhores coisas que me aconteceram, pois irresponsabilidade gera caos, angústia e tédio.
Estou lendo, relendo, um livro do psicólogo e professor universitário canadense Jordan Peterson, 12 Regras para a Vida, um Antídoto para o Caos. Atenção: apesar do título, nada tem a ver com autoajuda. No YouTube, pode-se assistir a inúmeras entrevistas e palestras suas, sobre política, direitos humanos, psicologia, saúde, especialmente psíquica.
CAMINHE ERETO, OLHE PRA FRENTE, PROCURE SE INTERESSAR EM ALGUMA COISA, QUALQUER COISA OU PESSOA, AJUDE A SI MESMO COMO SE FOSSE UM AMIGO IMPORTANTE
Não sou facilmente tiete de ninguém, mas neste momento meu “guru” é ele, pela lucidez, bom senso, empatia e simplicidade. Entre muitas coisas sobre depressão (não tristeza pontual sobre algum motivo), por exemplo, algumas parecem muito lógicas e eficientes: ter um excelente psi, aceitar medicação (dada por esse excelente terapeuta ou médico) e deixar de se sentir vítima. Depressão ataca milhões no mundo inteiro, o próprio Peterson e sua filha sofrem ou sofreram disso, que aliás se manifesta em várias pessoas de sua família.
Pare de se vitimizar e, se conseguir sair da cama, faça alguma coisa. Saia do quarto. Realize qualquer atividade ou trabalho. Estude. Caminhe, corra, qualquer coisa, desde que o obrigue a sair de seu próprio sofrimento. Mantenha algum horário. E, metafórica e concretamente, arrume suas coisas: bote em ordem seu quarto ou seu escritório, e aos poucos verá que vai arrumar sua vida.
Caminhe ereto, olhe pra frente, procure se interessar em alguma coisa, qualquer coisa ou pessoa, ajude a si mesmo como se fosse um amigo importante. Seja amigo de quem deseja seu bem. Busque o que tem significado, não o que é só conveniente. Não se exija demais, nem seja demais permissivo com você mesmo. A vida é cruel, para algumas pessoas em alguns momentos é trágica, mas não há outro jeito a não ser este: cuide de sua existência, veja como você a quer viver.
Falando assim, parece fácil... ou impossível. Escritos e falas do doutor Peterson não se dirigem só para quem tem problemas sérios, mas valem para cada um de nós, pois a vida é dura tarefa para qualquer um. Já escrevi, e repito, o que me disse um amigo, “Lya, cada um tem a sua dor”. Não se entregue, não se vitimize, não se isole, nem julgue os outros. Vai ser difícil.
Mas assuma responsabilidade em construir sua vida, nem que seja um tijolinho por dia.