"Cada um por si" é o que diz, em imagens tumultuárias de guerras e desastres, um punhado de comerciais de carro em lançamento, de mais de uma marca (os publicitários terão combinado?). Vi esses dias, estarrecido, essa ideia reiterada: um carro novo, potente, desejável, resistir a tufões, enxurradas, invasão de estrangeiros ou extraterrestres. A mensagem é clara: dane-se o mundo, desde que eu fique bem. Custa só umas poucas dezenas de milhares de reais.
Terá sido também uma forma de egoísmo a delação de Palocci? Altruísmo, amor à pátria, consciência culposa de erro grave que cometeu e coonestou, não parece que qualquer dessas alternativas explique sua exposição ao juiz Moro.
Vi quase na íntegra a fala do poderoso ex-membro da Libelu, agrupação política que minha geração viu nascer, florescer e em grande parte integrar-se a círculos altos do poder no Brasil, não só nos governos petistas. (Palocci virou coordenador da campanha de Lula substituindo o assassinado Celso Daniel. Nunca esquecerei a cara de um irmão de Celso Daniel, em programa de tevê, denunciando o esquema de corrupção que cercou a morte de Celso: o olho triste e cansado, mas irresignado e cheio de coragem.)
O que mais me chamou a atenção, na denúncia de Palocci contra Lula e Dilma, foi um gesto que na outra sessão com Moro também havia aparecido: a subserviência. A certa altura, ele não apenas quer contar mais do que havia sido perguntado – ele pergunta, melífluo, se o doutor Moro não se incomodaria de perder uns minutos com uma recapitulação que ele, Palocci, precisava fazer. O juiz aceita a perda dos minutos, e Palocci se lava. Um espetáculo humano de rara cafajestice.