O Jeferson Tenório, professor de literatura e escritor, postou no Facebook uma crítica muito fundamentada à programação da Feira do Livro, a joia da nossa coroa letrada, uma velhinha de quem precisamos cuidar bem como patrimônio público.
A Feira do Livro de Porto Alegre é de fato uma das instituições de que mais nos devemos orgulhar. Em praça pública, resistiu à tentação de ir para um galpão, que lhe daria a falsa sensação de segurança e lhe cobraria justamente o valor inestimável de funcionar no espaço público, na praça, uma das praças mais importantes de história da cidade, que fica no Centro mas é de todo mundo.
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Mas ela não é produzida, nem foi inventada, pelo poder público em primeiro lugar, e sim pela Câmara do Livro, uma associação de classe – mal comparando, é a Farsul ou a Fiergs dos fazedores e vendedores de livros. Isso não é bom ou mau, mas é uma âncora sólida.
Essa âncora tem garantido a existência da Feira, com suas virtudes e defeitos (mas com grande apoio de verbas públicas, nas últimas três décadas). Virtude: ativa o comércio e a indústria do livro entre nós, fazendo inclusive reserva de mercado – não há possibilidade de barracas para editoras não-filiadas à Câmara. Não é pouca coisa, em era de mundialização na marra dos mercados.
Mas isso tem limites, que não precisam, a meu juízo, coincidir com o muro em que o Jeferson bateu a cabeça. Ele propôs duas atividades que têm tudo para caberem na Feira, acho eu. Sua reclamação procede, mas não sei se concordo com uma de suas propostas – ele fala num novo modelo, “com curadoria”.
Se entendi a alusão, o Jeferson está pensando em feiras com concepção, com assinatura, em que um tema central é escolhido. Esse outro modelo de feira (ou festa, como tem sido chamado no Brasil) tem cabimento mas é outra coisa – resumindo, acho que as curadorias falam para um público muito acanhado, para leitores iniciados.
E a Feira de Porto Alegre nasceu para ser uma feira popular, com tudo que isso implica – inclusive vender mercadoria barata e de pouca qualidade, os Curys e Macedos da vida.