Você já caminhava. Me viu, sorriu. Foi muito real. Dolorido de saudade. Ao sorrir, você me reconheceu. Já estou há mais de um mês longe do teu cheirinho do pescoço. Do seu chorinho de fome. Do seu movimentar de braços e perninhas.
A sua ida ao aeroporto na despedida foi o momento exato que aprendi de verdade o instinto, o primitivo e animal que é a palavra saudade, que pode machucar. Tudo me lembra você. A virada da Croácia me lembrou você. Porque os caras ficaram muito felizes. As fotos desse profissional também. Quero que você trabalhe como ele.
Lhe conto: os moços croatas fizeram um gol na prorrogação. Coisa muito rara no futebol. E esse tento os levaria para a final da maior competição que existe. Tipo uma alegria extrema. Eles se abraçaram tanto, mas tanto, que derrubaram esse outro moço que trabalhava. O trabalho dele é muito legal, Federico.
Ele congela momentos para sempre. Ele olha algo legal. Aperta um botão e tudo para. Tem registros que ficam para sempre mesmo. Que mudam vidas, param guerras, mostram o quão amoroso e cruel esse mundo que você está pode ser. Esse moço, dessa vez, participou de duas coisas.
Ele fez o seu trabalho mesmo caído. Não parou de congelar momentos máximos da vida desses jogadores de azul. Foi lindo demais. Ao mesmo tempo ele participou da felicidade desses caras. Foi abraçado por eles, ficou com o suor deles e, no final de tudo, recebeu desculpas e mãos para levantá-lo. Tudo muito rápido.
Como o sonho dessa madrugada. Você me reconheceu chegando em casa. Correu para me abraçar. Com sorriso mais lindo da minha vida. Consegui sentir o calor desses seus poucos centímetros de existência. Foi mágico. Eu abracei, esmaguei, senti o seu cheiro, filho. E acordei chorando.
Eu estou com saudades, Federico. Na verdade, agora, sei porque essa palavra existe.