"Saiu o tampão!". Foi isso que li no WhatsApp no sábado, no começo da tarde. "Vai nascer!". Estava em Jaraguá do Sul, norte de Santa Catarina. Sites de companhias aéreas, desespero completo porque não posso perder o nascimento do meu filho. Não sei qual é a pena para isso. Talvez o empalamento. Seguido de uma discussão com dois fanáticos da dupla Gre-Nal.
O tampão é um dos últimos atos antes de o bebê nascer. No Google, diz que a média de nascimento após a saída dele é de três a cinco dias. O meu obstetra garantiu que poderiam ser três horas. Ou semanas, já que Federico ainda pode ficar um tempo se alimentando no quentinho de uma placenta (todos os que estão lendo este texto lembram do conforto de uma).
O desespero se deu quando, cinco minutos depois do tampão, outra mensagem chegava avisando que choques, contrações estavam acontecendo. Correria para ir a Florianópolis, local do único voo direto para Porto Alegre. Precisava estar no Hospital Moinhos de Vento. Dizem que pais que não acompanham o nascimento do rebento se arrebentam no resto da vida. A vida vira puro azar.
Serei pai. Não sou um desgraçado! Porque agora tudo o que mais importa não sou mais eu mesmo. Agora tudo faz sentido.
Cheguei no começo da noite e Federico continuava dentro da mãe. Agora, segunda-feira, meio-dia, horário de Brasília, ele continua lá, dando uns pataços, transformando a barriga num Alien que parece querer sair, e preciso dividir com vocês algo que finalmente ocupou espaço na minha cabeça.
Mas preciso construir bem essa história. Vamos lá: eu não estava me sentindo pai ainda. Todo dia me perguntam como está minha expectativa, como está sendo a espera, quais são os planos para o bebê etc. Nunca fui sincero. Sempre menti. Porque a sociedade não aceitaria que eu não estava me sentindo pai ainda. Foram poucos os amigos com quem dividi essa angústia. Sou um desamor? Um desnaturado? Um homem frio? Como pode eu ainda não estar me sentindo um pai? Poxa vida, há uma gravidez, um serzinho com mais de três quilos, uma mãe, um berço, está tudo na minha frente. Um barriga enorme gritando que a paternidade já começou.
Foram momentos terríveis. Me sentindo o pior dos seres humanos, aquele grávido que não se emociona, o futuro pai que não derramou lágrima alguma durante o processo de nove meses. Fim. Sou um crápula. Um bicho desalmado. Até ler a mensagem do tampão.
A vida moderna possibilita que nos emocionemos olhando uma pequena tela retangular. No telefone, passam nossos sentimentos. Tesão, tensão, alegria, arrependimento, brigas, dinheiro, família, tudo passa por ele. E foi nele que fui curado. Ler "saiu o tampão" devolveu minha dignidade. Finalmente lágrimas paternas escorriam. Definitivamente, nenhuma dúvida havia de que a sensação mais forte da minha vida está por vir. Algo tão natural, tão biológico, tão corriqueiro é a maior sensação de alegria para bilhões de pessoas deste planeta.
Serei pai. Não sou um desgraçado! Porque agora tudo o que mais importa não sou mais eu mesmo. Agora tudo faz sentido.